Francisco Gomes (cor)rompeu a existência em 1982 no arcaico município de Campo Maior (PI), fixando raízes na provinciana Teresina (PI) aos 7 anos de idade. É poeta, músico, compositor e letrista. Iniciou as faculdades de História e Letras/Português, abandonou ambas. É autor dos livros “Poemas Cuaze Sobre Poezias” (FCMC, 2011), “Aos Ossos do Ofício o Ócio” (Penalux, 2014) e “Face a Face ao Combate de Dentro” (Kazuá, 2016). Tem poemas publicados em revistas, jornais, coletâneas nacionais, blogs, sites, muros etc. Edita o blog PULSO POESIA e a página no facebook MAL DITOS PARALOGISMOS. Admira a carência orgulhosa dos gatos e a tranquilidade dos jabutis. Adora fígado acebolado.
Foto: Paulo Tabatinga
QUEM VAI SABER O QUÃO É DOLOROSO ALIMENTAR
OS DEMÔNIOS NO QUINTAL DA INSÔNIA…
Quem vai saber o quão é doloroso
alimentar os demônios no quintal da insônia…
A dormida repleta de osgas frias
me expulsa para o mundo espúrio dos afagos
: arranhões nas costas
, beliscões no escroto
, lambidas violentas no períneo
, mordidinhas irônicas na glande…
Quem vai saber o quão é doloroso
alimentar os demônios no quintal da insônia…
Nenhuma paz
é tão gloriosa & cheia de fúria
como o silêncio eterno
das estátuas das praças…
Nenhuma paz
é tão irritante & putrescível
como o olhar movediço da velhice
frente ao espelho trincado do asilo…
Quem vai saber o quão é doloroso
alimentar os demônios no quintal da insônia…
Essa penumbra cintila Impossíveis
(o que me assombra não são os escombros)
: meus ombros já não suportam
o peso descomunal dos anjos caídos.
Adormeço
hesito
cresço
grito
desço…
Necessito da noite sem lua
para poder contar as estrelas escondidas
na imensidão obscura e arredia da madrugada
para poder resistir ao poder da tua voz fria
, das pontas de cigarro nos pulsos e mamilos
, dos beijos asquerosos sem sentido…
Quem vai saber o quão é doloroso
alimentar os demônios no quintal da insônia…
Enquanto
os inocentes caminham
sobre abissais pegadas
e não enxergam os rastros
que o tempo presente revela
, compartilho com os suicidas
a desrazão dos fatos repetitivos na selva dos aflitos…
Quem vai saber o quão é doloroso
alimentar os demônios no quintal da insônia…
No fundo, no fundo
restam Silêncios & Estigmas.
QUANDO EU ANDAVA DE MÃOS DADAS COM A MORTE
Quando eu andava de mãos dadas com a morte
sentia a fúria necrosada
na face do deus parricida.
Sentia a frieza do exílio
na decadência de Kronos
sapateando sobre os infortúnios da vida.
Aquele cheiro
abafado e doce da umidade excessiva
do Olimpo
invadia as narinas embevecidas…
Quando eu andava de mãos dadas com a morte
percebia a algazarra
no desprezo dos aflitos.
Percebia o coro desencorajador
no pestanejar dos demônios
destilando zeugmas e detritos…
Imagens incandescentes
sempre surgem
: uma prostituta gorda e arredia
acariciando o clitóris com o dedo mindinho
& grita
& berra
& goza
& declama
“Um sopro no cu dos comedidos!
Um sopro no cu dos comedidos!
Um sopro no cu dos comedidos! (…)”
Quando eu andava de mãos dadas com a morte
, arte e artista se confundiam
numa simbiose libertina.
Meu corpo explodia em sentidos
na busca incansável
por Precisos.
(Pensar a procura como quem morde a mão do mistério
a priori estendida…)
Quando eu andava de mãos dadas com a morte
sentia um beijo catatônico
na nuca da Minh’ alma.
Sentia a imobilidade do instante
& a tensão do desequilíbrio da Sorte.
Sentia a mais pura alucinação incisiva
quando eu andava de mãos dadas com a morte…
EU DEIXARIA MEU CORPO A MERCÊ DOS PRAZERES
Eu deixaria meu corpo
a mercê dos prazeres…
Deixaria o desgaste possuir
minha pele
, ossos
& sexo.
Minha urgência exige corpo.
Exige “dar-se”
, ser possuído pelo fluido do instante
, pelo diáfano amanhecer das ilusões.
Eu deixaria meu corpo
a mercê dos prazeres…
Deixaria o silêncio solene das horas
invadir meus poros
e habitar a mais longínqua
sensação escondida
no âmago da carne.
Deixaria a tempestade dos teus olhos
devastar a superfície do meu gesto
e acrescentar astros ao meu gozo.
Os incuráveis
, tanto quanto eu,
sabem
da mais-que-necessidade da urgência
: antes que a chuva acabe
, o desespero da tarde arde
na face etérea da decadência.
Eu deixaria meu corpo
a mercê dos prazeres…
… morreria palidamente
na outonal algazarra
dos entediantes afazeres…
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