gotas de orvalho
bom dia
tem gotas de orvalho nas folhas
há muito tempo não noto
elas que brota nos vãos das calçadas
superaram a noite fria de outono
eu superei também
e numa prece rápida
pedi a deus que ela durasse
e que eu sonhasse
comigo e com minhas verdades
os passarinhos que ali estavam se foram
e o sol se ocultou
bem no meu instante
e não foi por timidez
e sim por leis decretadas
leis universais
do vento e do tempo
não me entristeci mais
meus ombros amadureceram calos
e meus olhos um brilho
cada vez mais gelado
mas ainda me sinto do bem
imaginei uma situação
e tive certeza que meu coração é bom
e que só está triste
ainda carrego na bainha
uma espada de luz
só não há escudos
nem armaduras
e nem contato com o rei dos reis
o orvalho é o meu suor
no fim de cada dia
o banho quente é um presente
que aliviam as fissuras nos ombros
instantaneamente
temporariamente…
há um vórtice no meu centro
que custa manter
grandes alquimistas falharam
uma boca de lobo
que bebe os quatro elementos
em certos momentos
daria um belo quadro
obrigado senhor
pelas horas que entendo
a grande lição pelas gotas de orvalho
mas por favor
por favor
respondei minhas cartas.
cores de domingo
diga que ama a terra
pois o amor não pode esperar
mas não se sinta obrigado
a amar a vida
ela não está pronta
e é facilmente ruim para muitos
eu amo o verde
e sua selvageria de brotar
em qualquer lugar
a frieza da mata fechada
e tudo que ela oculta em folclore
eu amo o azul marinho
e sua força de carregar
o que quiser por onde quiser
invejo seu abraço paterno
ao envolver toda a terra
a maior força dominante
melhor é ocultada na inocência
você já viu o sol de uma manhã de domingo?
você já viu a forma que a serra da cantareira
beija o azul do céu?
ainda não amo a vida
e me concedo o direito de odiar
odiar tudo que estamos fazendo de errado aqui
eu odeio a forma de como não enxergamos coisas belas
quando estamos muito próximos.
na sombra do mar de Ícaro
na minha vida
sobretudo os pesares
o peso é de pedra
e a pedra é a escolha
elas vieram de longe
todas com medo
transmutado em cubos de gelo
que formam os seus lábios
curtos ou longos
nunca além da segunda dimensão
e meu instinto lunar
sempre com o primeiro plano disponível
como num eterno aguardar
seja a nova Jerusalém
como estrela cadente à criança
seja lábios novos, quentes
seja venus à adonis
desça
eu levanto vôo falho
sob o sal do mar de Ícaro
o sol só desperta a sede
falso vilão
assim como o ladrão
pobre
sente a lua
quem é fraco para olhos humanos
que a terra e o tempo engolem
carne e osso
e sussurram segredos do Espírito
tornei-me próprio mito
Sísifo
e a pedra é a escolha
a pedra são todas vocês
que acham que não se pode mais voar.
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