São Paulo II
A noite se dissolve
com o peso de um guindaste
cavando vazios
máquinas autômatas
rangem
seus tridentes
horas avessas &
termômetros frios
4 horas na Paulista
São Paulo VIII
Bêbados vomitam sonetos de sangue
Bela mulher seduz nuvens contraditórias
Cão arrasta correntes infinitas
Meninos tecem longas espirais de fumaça
em cachimbos dourados
Tiros espocam no escuro – fogos
dão cores ao céu de chumbo
Um corpo estirado
na vala comum dos dias
agoniza:
homem – jovem – negro
– mártir não oficial, estatística –
feito para ser esquecido.
POEMA DE CINZA CHUMBO
I
O pai ousou gritar nos dias cinzas de chumbo
A mãe rodava panfletos num velho mimeógrafo estéril
Nada entendíamos
Cantávamos tristes canções entre os ciprestes e as sombras.
II
Os mortos insepultos são partes da paisagem
Estão ali nas escadas
Emparedados naquele mar
Seus gritos tangem o fosso – precipícios
enferrujados elevadores do centro,
desvalidas memórias amputadas.
III
Na vala comum desses dias – ossos de um país moribundo
Rescaldos de versos enlameados
No chão que é de poucos
No mausoléu de granito o ditador com honras apodrece
Comunga avenidas e praças de desatada sangria
IV
O pai tecia longos poemas sobre a revolução
A mãe espreitava as frestas do fim do mundo
Nada entendíamos
Dormíamos entre as lápides quebradas da tarde.
Leandro Rodrigues (1976- ). Nasceu em Osasco –SP. É Poeta e Professor de Literatura. Lançou em 2016 o seu 1º livro: Aprendizagem Cinza pela Editora Patuá. Em 2017 participou do Jornal de Literatura O Casulo e do livro Hiperconexões 3, Ed. Patuá. Mantém seus escritos no blog: nauseaconcreta.blogspot.com.br. Já publicou poemas em vários sites e revistas de literatura do Brasil, Portugal, Espanha e E.U.A.
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