Ponto infinito
Quando me guardo sou concha fechada
Quando me solto sou porta aberta.
Algumas vezes sou vento preso no tempo de uso .
Fechadura arcaica de um único furo.
E em todas as condições:
Fechada feito concha
Aberta como porta
Sou plena em meu porte:
No verão aqueço-me e me abro pra sorte
No inverno enrijeço-me e me espanto de morte
Na primavera tenho cheiro de perfumes florais
E no outono sou folhas que caem
e me deixam completamente nua.
E só o que espero: sisuda, calada e confusa
é que venha o sol, o vento, a água da chuva
e eu pise o chão da terra sem medo de erosão.
Sou um ponto infinito,
no curso das quatro estações.
Tempo de esperar
Eu gosto disso:
De saber que as horas
que me visitam na surpresa,
nas incertezas,
são as mesmas que
vão embora
e se despedem sem deixar
rastro algum nos assoalhos
por onde piso.
E me convencem
da sua evanescência
da sua corpulência em
me focar e desfocar.
A senha é sorrir
A senha é sorrir…
Pode ser um meio sorriso
um sorriso disfarçado,
discrepante,
de soslaio.
Um sorriso de boca
Murchada!
Ressecada!
Mal beijada!
Um sorriso divino,
emoldurado!
Emendado à parede da emoção.
Sorriso desenhado, de contorno
dissimulado!
Sorriso apaixonado
pintado de batom,
e escancarado!
Sorriso de deboche
esconderijo da língua
felina.
Sorriso em meio à dor
sorriso de amor traidor.
Sorriso pueril
de pureza!
Sorriso que esconde a palavra,
que é sorriso mal disfarçado
tece em farsa de alegria
a face indômita da tristeza.
Ana Meireles nasceu em Icoaraci distrito de Belém do Pará. Possui formação em Psicologia (UFPA) e especialização em Psicologia Jurídica (Unama)
É servidora pública lotada na Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda -SEASTER. Escreve poemas e crônicas.
*Imagem de autoria desconhecida.
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