Três poemas de Luiz Frazon

 

LUIZ FRAZON LIVRO 289x300 - Três poemas de Luiz Frazon

O nome pela metade, 2017, Luiz Frazon

 

 

 

 

O BICHO PELA METADE

 

“Vida: só essa

lembrança exígua

do vivido

ou também o que ficou mudo,

adormecido?”

Sônia Barros

 

O bichinho da goiaba

é doce; sabemos.

Nós o comemos

por falso engano.

Lá o saboreamos

roliço,

cravado na polpa,

gordo de goiaba.

E sendo assim

praticamos um velho rito;

porque dele queremos

o sumo

sem o penar

de seu vício.

 

 

 

ARCHYTAS OF TARENTUM

 

O que sabemos

de nós mesmos

é um pouco mais

do que uma chave de fenda sabe

sobre um parafuso:

é um jeito abissal

de enroscar o mundo

e prendê-lo, firme.

Um íntimo conhecer, profundo,

do seu nome ferroso,

a matéria que se abraça.

É lançar-se adentro

e entretecer o aço

sob pressão

da mão alheia.

 

 

 

SOBRE O LABOR DE NOÉ

 

em punho fechado

o martelo o serve:

na sua pancada seca

em fundura do ferro

cravado nas costas

da madeira,

lasca da pura robustez

 

parte o punho

martelando firme

o trançado de ocres;

 

e reflexos

que o atrito hostiliza

em seu percalço

camuflam em frêmitos

a pancada que bate calada

 

 

 

Luiz Frazon é Educador Social na cidade de Ribeirão Preto, SP. Cursou letras, apesar de não concluir o curso e hoje faz bacharelado em Educação Física e Esporte pela USP. Coeditou o Zine “O circense” entre os anos de 2003 e 2007. Participou de algumas antologias poéticas, publicou seu primeiro livro de poemas, Roçando água, em 2009 e em outubro de 2017 seu segundo livro, O nome pela metade, pela Editora Patuá.

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