O BICHO PELA METADE
“Vida: só essa
lembrança exígua
do vivido
ou também o que ficou mudo,
adormecido?”
Sônia Barros
O bichinho da goiaba
é doce; sabemos.
Nós o comemos
por falso engano.
Lá o saboreamos
roliço,
cravado na polpa,
gordo de goiaba.
E sendo assim
praticamos um velho rito;
porque dele queremos
o sumo
sem o penar
de seu vício.
ARCHYTAS OF TARENTUM
O que sabemos
de nós mesmos
é um pouco mais
do que uma chave de fenda sabe
sobre um parafuso:
é um jeito abissal
de enroscar o mundo
e prendê-lo, firme.
Um íntimo conhecer, profundo,
do seu nome ferroso,
a matéria que se abraça.
É lançar-se adentro
e entretecer o aço
sob pressão
da mão alheia.
SOBRE O LABOR DE NOÉ
em punho fechado
o martelo o serve:
na sua pancada seca
em fundura do ferro
cravado nas costas
da madeira,
lasca da pura robustez
parte o punho
martelando firme
o trançado de ocres;
e reflexos
que o atrito hostiliza
em seu percalço
camuflam em frêmitos
a pancada que bate calada
Luiz Frazon é Educador Social na cidade de Ribeirão Preto, SP. Cursou letras, apesar de não concluir o curso e hoje faz bacharelado em Educação Física e Esporte pela USP. Coeditou o Zine “O circense” entre os anos de 2003 e 2007. Participou de algumas antologias poéticas, publicou seu primeiro livro de poemas, Roçando água, em 2009 e em outubro de 2017 seu segundo livro, O nome pela metade, pela Editora Patuá.
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