verossímil
hoje terei que fingir que te amo
para escrever um poema
é que soube que botaram à venda
uma casa lá na Rua do Alto
com uma varanda colonial
e umas margaridas selvagens
para lá valeria a pena nos mudar
e criar os três filhos
que nunca teremos
em chamas
esta manhã eu fui uma mulher em chamas
e carreguei comigo o calor e as cores das chamas
por falta de um mapa de incêndios
e de companheiros incendiários
ardi em altas chamas
completamente desperdiçadas
dominó
sair quebrando todo dia
e como todo mundo
trabalhar e como todo mundo
sentir e como todo mundo
amar e como todo mundo
trair e como todo mundo
estar só e como todo mundo
pensar e como todo mundo
ignorar e como todo mundo
falar e como todo mundo
calar e como todo mundo
deixar um tempinho
pro sonho de consumo
e como todo mundo
ser incapaz de consumir o instante
até finalmente morrer como todo mundo
Norma de Souza Lopes é Autora dos livros de poemas De mim ninguém sai com fome (Patuá, 2017) e Borda (Patuá, 2014) Norma de Souza Lopes (Belo Horizonte/MG, 1971) é Poeta e Professora. “Escrever é essa costura cotidiana quando posso tecer e juntar as pontas soltas da memória.” Escreve no blogue Norma Din:
http://normadaeducacao.blogspot.com.br/
Obrigada
Obrigada querida. Muito bom estar por aqui.