CICATRIZES
ninguém perceberá
a urgência
do ontem
dos templos
do segredo
sobra o tempo das sombras
dez sinos dobram
a nossa mórbida biografia
guardiões e guardados
escondem a ternura
dos porquês
no erguer
dos ventos a esperança
de crescer mais distante
PEQUENA MÁQUINA DE FAZER ABANDONOS
olhos tristes
(cortina
de pálpebras)
museu de medos
e abandonos
fértil imaginação
dos ossos
(ficção de outono)
AVESSOS
Para Chico César
“Tenho vinte nove bocas urdindo a falsa doçura da confusão”
(Herberto Helder)
reviver
vagando
as vísceras
calcanhares
de sonhos
pendurados
no tédio
pedras
a tatuar
ontens
no sertão
de hoje
na esquina
a carne apita
o desmoronar
de karmas
Bruno Gaudêncio é natural de Campina Grande (Paraíba). 32 anos. É doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo e autor de quatro livros de poemas, com destaque para O Silêncio Branco (Patuá, 2015). Os três poemas acima fazem parte do seu novo livro a ser publicado pela Editora Moinhos, de Belo Horizonte, em maio de 2018.
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