Mal estar bem
Eu não teria essa insegurança
Se eu já tivesse sido laureado
Eu teria essa insegurança
Eu não teria esse medo
Se tivesse levado menos sustos
Eu ainda teria esse medo
Se me tivessem parabenizado
Eu estaria muito seguro
Eu seguiria inseguro
E eu estaria menos aflito
Eu estaria aflitíssimo
Tivesse o controle ou a meditação
Eu não estaria pensando
Se eu já soubesse
Eu não pararia de pensar
A leitura do poema
quando dizem “leia,
é um poema”, você respira
mais lentamente entre as orações.
mas não o dizem
e ainda assim
você percebe
não só pelos versos, há poesia
em prosa e sem metro, mas
se dizem, talvez você tente
contar em vão as sílabas
e ainda assim
não há dúvida de que se trata
de um poema, respira-se
o voo contido da divagação
há um estar-se e um alienar-se
de mãos dadas, você
e eu e o verso podemos
ter mãos e dá-las, e ainda
assim não comungarmos
a mesma mensagem, quando
dizem leia, é um poema
sem aspas, esqueça a teoria
é cadência apenas, veja
e um outro ritmo, a respirar
fundo, esse feito feito ar
Acordamos
Acordamos
Sem saber
Se para o fracasso
De um dia comum
Ou para o sucesso
De um dia comum
Concordamos
Sem saber
Com o contrato
Dos fatos imprevistos
Com o improviso
De toda rotina
Recordamos
Sem saber
Um rosto desconhecido
Por trás do que já passou
E pelo dia à frente
Um entre tantos destinos
Despertamos
Sem saber
Leandro Jardim escreve poesia, prosa e letra de canção. Publicou, dentre outros, a novela “A Angústia da Relevância” (Oito e Meio, 2016) e as coletâneas de poesia “Peomas” (Oito e Meio, 2014) e “Todas as vozes cantam” (7Letras, 2008). Em parceria com Rafael Gryner, lançou os discos “O Sonhador” (2014) e “Sementes musicais para um mundo cibernético” (2011). Também possui canções com artistas como Diogo Cadaval (banda Mocambo), Clara Valente e Matheus VK. Reúne suas demais publicações em antologias e coletâneas no link: leandrojardim.blogspot.com.br
*Imagem de autoria de desconhecida.
Maravilhosas. Inspiradoras