Três poemas de Ernane Guimarães Neto

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Sobre Armgohr (1998)

De pesadelo a pesadelo,
Acordo na negra madrugada
E permaneço de olhos fechados,
Concentrado no doentio.

Perdido neste pensar
Pergunto-me: o que espero?
Alvorecer o acordar
Ou a noite de deitar?

 

 

 

Deitado na caverna (2017)

I. Caverna

Deito.
Em torpor
Contemplo
Meu corpo.

 

II. Despertar

Não há rebanho inocente
Lá fora todos são feras
Não há amigo clemente
Nem benfeitor que não leve uma faca.

Nesta caverna escondo meu corpo
Eu saio, enfrento os estranhos
E trago frequentes despojos
Para o monstro que habita comigo.

Não posso fugir deste bicho
Que confundem comigo
Porque está em minha pele.
Se é contra ele, não é autoflagelo.

Não é timidez se o faço calar
Porém ele sempre está aqui.
Em sangue e com sede pintamos a caverna
Meu sangue, boca seca de ambos.

 

III. Hoje

Torto
Em torpor
Não mau
Nem morto.

 

 

 

Caverna universal (2018)

Depois de sair da caverna

À luz das formas nascido

Vi no alto do firmamento

O fio invisível que sustenta o sol

Vi o teto do mundo

Com um buraco negro.

 

Sombras que espiam de lá

Transcendem a caverna maior

Atravessam carne e fogo

Explodem a luz

Que eu mal suportava na caverna original.

 

 

 

Ernane Guimarães Neto escreveu a coletânea Caprichos de dores (Massao Ohno Editor, 1998), o romance Gênese Harmoniosa (Coruja, 2008) e o roteiro do jogo The Missing Star (Fundação Padre Anchieta, 2012), entre outros textos. Professor de Filosofia e Jogos Digitais, preside a Rede Brasileira de Estudos Lúdicos. Mantém o sítio alegoriadigital.wordpress.com

*imagem de autoria desconhecida.

 

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