- TEU CÃO SEM PLUMAS
Tua língua carbonizada no parapeito
como um banqueiro arquitetando
o completo extermínio de tuas libações
Inspiras & gaguejas uma surda sinfonia
Avizinha-se o anoitecer & os cães sem plumas
copulam pelas praças
Uma freada brusca se apresenta
à partitura
Pela alameda colapsada de semáforos
teus olhos arpejam pesarosamente
rumo ao inferno
dos quartos obscuros
rumo à derrisão
que urra nos telefones
eternamente em caixa postal
- MECANISMOS
Depois daquela tempestade
quase náufragos
trágicos
juntos nossos relógios
se afogaram
nenhum pânico
apenas pane em suas
vísceras de mecanismos
mas o tempo
– naqueles momentos, congelado –
ainda acho
que foi por causa
do teu sorriso
- O BANQUETE DO POETA
O dia inteiro
amanhecendo
copo de leite
almoçando
maçã
à tarde
merendando
brisa
na noite vizinha
poesia
Leonardo Morais é professor de literatura e línguas. Doutorando em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Publicou o livro Colecionando Fraturas pela Editora Patuá (2017). Vive algures em Belo Horizonte.
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