Três poemas de Alufa-Licuta Oxoronga

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O verbo e o homem, 2017, Alufa-Alicuta Oxoronga. Ed. do Carmo

 

1-

Em tudo a alma faminta
se consome em sua vida,
às vezes, se curva ferida
em sua natureza distinta
e n’outras, em ira absinta
faz da dor a sua comida.
E da vida, sendo vertida,
se alumbra ou se assinta.
E o vociferar da solidão
por sobre sua vida/farnel
a faz, alentejar o coração
aos agrados vindo do céu,
tecendo a aridez no chão
ou primavera sobre o burel.
 
 
 

2-

Ante os cansaços dos caminhos desta vida
que me encontra anacrônico e inconcluso,
dou-me, em corpo informe, rude e obtuso,
aos feitos de minh’alma incauta, repartida.
Igual o sereno, que sobre a relva desavida
não se resguarda, do destino vil e humifuso,
eu também, não me atenho ou me recluso
à qualquer dor, seja à vencer ou já vencida.
A esta vida, que em vivê-la é o que restou,
dou-me ávido, seja íntegro, seja em pedaço,
e mesmo afásico ou aforístico, me antedou
sem medo algum de vencer meu embaraço.
E a tudo, que a parca vida em mim gastou,
extraio o amargo, igual da uva o suco agraço.
 
 
 

3-

Se nada em mim, de mim, primeiro eu ponho
se antes, não disponho d’outro meu eu animal,
serei, enfim, de mim, um patrimônio desigual:
ser banal, indigno de viver meu próprio sonho.
 
Portanto, ainda que me venha o medo medonho
destes, que chega à nado, em canoa ou em nau,
não me encontrará fora de minh’alma estrumal
tampouco, longe deste viver que me enfronho.
 
Se, por mais intrépido fosse e de mim nascesse
o que em mim não visse, e, por sobre sua mão
me apanhasse, ainda que nem mesmo quisesse,
e, assim, de mim, distanciasse o meu coração,
mesmo assim, me colocaria ao mesmo interesse:
de zelar por mim, na mais completa abstração.
 

 

 

Alufa-Alicuta Oxoronga  é psicólogo, poeta e artista plástico, tocantinense por nascimento, Paraense por criação e Pernambucano por afeição. Filho, pai e avô. Autor de 72 livros de poesia, 05 de ensaio artístico e 16 e-cordel. Sócio Fundador das Ongs: Leo & Teo e Cajú – Sociedade Cultural, ambas com atividades culturais nas áreas de Poesia, Literatura e Artes Plásticas. Idealizador do Zine “Uma Coisinha Qualquer”, que circulou por 04 anos na cidade do Recife. Não tem hábito em participar de concursos literários nem acredita que os atuais programas de políticas públicas sirvam para alguma coisa, a não ser agrupar pessoas com interesses alheios ao próprio ato de criar. Entende que o papel do poeta na transformação cultural implica-o a ser agente criador, contestador e transformador da realidade em que vive.

 

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