1
na rua dois meninos
com línguas de atravessar dilúvios
sulcam alguma calamidade do chão
[ como quem limpam ossos
sem pensar nas dores dos donos ]
na tentativa de desanoitecer a infância
mesmo que esses dois meninos
conduzissem um índico inteiro nos olhos
ainda seriam pequenos para compreenderem
os órfãos que sonham todas as noites
com um inventário dos pais
& os epílogos de chãos sem túmulos
só os órfãos sabem
que não basta internalizar razões ou rostos
lavrar a carne depois da igreja vazia
é preciso redesenhar as tragédias
do mar sem porto ou margens.
2
chove sobre nossos ombros
e o menino não encontrará a resposta
de quando florescerão acácias
no sentimento linguístico de abril
é tempo de arbustos
amanhecendo perguntas
foi ontem que anoiteceram ossos
na definição irrevogável de deus
& agora a estética necessita de horizontes
para a geografia de nomear tristes homens.
3
se houvesse outras perguntas
no mapa dos olhos
elas seriam alfazemas no amor sem reza
ou precários ciprestes
inclinados à misericórdia desse rosto
improvisador de dissidências
quando a palavra simboliza rancores
amanheceu uma demora nos olhos
neles pesaram o retângulo
na temeridade da sina e do sal
um íntimo chão de ossos invingáveis
& as coisas que arrancaram
álgebras no provisório início do mar
habituado a guardar uma geografia inconsútil
os olhos atravessaram a angustia
sem o ditame improvável da cura.
Airton Souza é poeta e tem publicado 30 livros entre poemas e literatura infanto-juvenil, além de ter participação em mais de 70 antologias literárias. Venceu diversos prêmios literários, entre eles: Prêmio Proex de Literatura, promovido pela Universidade Federal do Pará – UFPA, 5º Prêmio Cannon de Poesia, Prêmio LiteraCidade de Poesia 2013, Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura 2013, IV Prêmio Proex de Arte e Cultura, com o livro de poemas manhã cerzida, III Prêmio de Literatura da UFES, promovido pela Universidade Federal do Espírito Santo, com o livro de poemas Cortejo & outras begônias, Prêmio Nacional Machado de Assis, promovido pelo Canal 6 Editora, 1º Lugar no Prêmio LiteraCidade Prosa 2014, 1º Lugar no Prêmio Gente de Palavra 2017, organizado pela Editora Litteris, do Rio de Janeiro, 5º SFX de Literatura 2017, Prêmio Carlos Drummond de Andrade 2017, promovido pelo Sesc de Brasília, I Prêmio CAPT de Literatura 2017, obteve ainda menção honrosa no Prêmio Letrinhas do Brasil, com o livro infantil Os dias dentro da saudade, foi finalista no Prêmio Kazuá de Literatura 2016, com o livro um acenos aos girassóis e só em 2017 esteve entre os vencedores de mais de vinte prêmios literários, entre os quais: 1º Lugar no Prêmio de Poesia Cruz e Sousa, promovido pela Editora Do Carmo, de Brasília, o Prêmio Vicente de Carvalho, da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, com o livro crisântemos depois da ausência, o Prêmio da Academia Ferroviária de Letras, o Prêmio Clóvis Meire – categoria monografia e o Prêmio Vespasiano Ramos – categoria poesia, da Academia Paraense de Letras de 2017 e o Prêmio Nacional de Literatura da Fundação Cultural do Pará 2017, com o livro o tumulto das flores. Atualmente é mestrando de Letras, pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.
Airton Souza, grande poeta do mundo que nasceu e reside em Marabá-PA, Amazônia, Brasil.
Airton Souza, Poeta de trajetória belíssima!
Parabenizo-te !
Francisca, querida obrigado por sua leitura. Seu companheirismo de sempre em nossas lutas.
Parabéns prof. Agora conhecendo um pouquinho mais de sua história, encanto-me ainda mais por suas publicações..Lendo todos!