
Katrin Fridriks
APRENDEREMOS A DESCANSAR OS OLHOS NA ÁGUA
Após disputar toda a nossa distração
Após disputar toda a nossa distração, os ferimentos de ontem — assim como as úlceras na laringe agora — não admitem perpetuar nenhuma apatia. Sob outras suturas, atividade
intervalar. Largando a língua
entre
os lapsos. A dor,
a dor desbasta os dentes. (Que
fazer?)
Continuar renascendo. Incomodamente. E alerta. Continuar renascendo. Antes
de tudo.
Ruir. E irromper. Levantando raízes:
ergo
outro assombro. (Infinitesimal.)
Quando a minha solidão
Quando a minha solidão, sem deixar de ser solidão, estende seus tentáculos, quando essa solidão, sem deixar de ser solidão, alcança outros seres e objetos e vazios, mensuráveis ou não, miseráveis ou não, quando isso, sem deixar de ser o que talvez seja, quando isso, uma solidão, transborda, nada muda muito de figura, afinal de contas, mas é aí, nesse nada, que algo se inocula, molecularmente, fazendo aflorar a fenda de uma ferida ou a fagulha de um fôlego, força que finda e se finca, que gera e se degenera, entre seres e objetos e vazios, mensuráveis ou menos que mensuráveis, miseráveis ou menos que miseráveis, por que não?
Aprenderemos a descansar os olhos na água
Aprenderemos a descansar os olhos na água
(entre novas fissuras).
A calma — apesar de tudo há calma — quase
abranda
o calor. Pedras
prensadas contra
o brilho
daquela manhã ali, respirando
dentro
de alguma fala. O dia é obrigado a se abrir:
aprofundamos
sua fome.
Com as pupilas
eletrocutadas.
Casé Lontra Marques nasceu em 1985, em Volta Redonda (RJ). Mora em Vitória (ES). Publicou O som das coisas se descolando, Enquanto perder for habitar com exatidão e Mares inacabados, entre outros.
Be the first to comment