DE O CINZA VERSOS O AZUL (PATUÁ, 2012)
DE O AZUL VERSUS O CINZA (PATUÁ, 2012)
há um pouco de chão e fumaça
que nossa desencontrada memória
faz ouvir germinar e falar mas não
se arranca deste pé de pedra
há mesmo um pouco de profecia
de relógio d’água que ruínas não
juntam que nosso estilhaçado
coração sente pulsar alto o espírito
lá dentro no interior da pedra
há até um pouco de freio na fome
de juventude abafada que nossos
dentes ainda armados de força
e badaladas não repõem violentos
nas sete auroras da pedra
que chamávamos mesa
“BEIRAS E ASAS JUNTO AO BAR MONTECARLO”, DE GERMES ENTRE DIAS BRANCOS (PATUÁ, 2016)
A Eduardo Lacerda
Por que fazemos coisas?
Porque fazemos.
Os sonhos já nascem nos limites.
Porque fazemos coisas.
Sei que talvez devêssemos deixar
os arredores darem sinais
crescerem com suas sirenas
ainda que em silêncio os telhados
abstratos de um mundo
que bem pouco quer ouvir
o corpo dentro do tempo
Por que fazemos coisas?
Porque fazemos.
Dorme o tempo
daqueles que estão presentes
entre reflexos e ecos
colhendo o cercado das fomes
ideias que subsistem fora de nós
um sentido que mal se poderia
ver e ouvir dentro do tempo
Por que fazemos coisas?
Porque fazemos.
Os castelos estão suspensos
entre a cerração e o medo
a chuva espessa e a história
vistos de frente na cerração espessa
vistos dos fundos no pesadelo
adormecidos em algum lugar
amanhecendo em algum tempo
Por que fazemos coisas?
Porque fazemos.
Para poder vê-los os castelos contraluz
seguirmos seus rastros imprevistos
Sempre prontos a se refazerem
: só assim prontos para habitar
Marco Aqueiva é poeta e ficcionista. Organizou a coletânea de contos 1917-2017: O século sem fim (Patuá, 2017). Integra o coletivo Quatati, dedicado à criação e divulgação literária. Email: marco.aqueiva@gmail.com.
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