GUERNICA
Há um quê de desumano em meu abraço
Não percebe?
Possuo destroços em lugar de órgãos
infortúnios de um tempo sem pecado
o traço de Picasso na face
e nas extremidades pequenas avarias
Creia:
houvesse algo entre nós, desmoronaria
NADA EM TI ME SURPREENDE
Nada em ti me surpreende
Conheço teu contorno
teu sotaque
teu afeto
Sei do calor
de tuas mãos
conchas onde guardo
meu segredo
Deitada à sombra
de teu corpo
sou nascituro cego
incompleto
Nada em ti é cedo
DE MALAS PRONTAS
Desligar as luzes
Fechar as janelas
Trancar a porta
Abrir a bagagem do desconhecido
e desorganizar sentimentos…
Viajar é perscrutar a casa
que levamos dentro
Noélia Ribeiro nasceu em Recife, mas mora em Brasília desde 1972. Formada em Letras na UnB, trabalhou como professora de Língua Portuguesa, revisora e taquígrafa da Câmara dos Deputados. Publicou Expectativa (edição da autora, 1982); Atarantada (Verbis, 2009) e Escalafobética (Vidráguas, 2015). Recebeu da Secretaria de Cultura do Distrito Federal o Prêmio FAC 2017 – Igualdade de Gêneros na Cultura.
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