FANAL DO NASCIMENTO DO TEMPO
Podem voar os pássaros da minha sombra inconclusa,
que a escuridão não deixará de ser a crua véspera,
sem identidade, na claridade tardia.
Podem passar tardes na cela da dor,
que os sonhos partirão ainda sem rumo,
nascidos do tempo, aos olhos da magia em queda.
Posso calar os sentimentos profundos, os labirintos amargos, os presságios mortos.
A tortura é a minha passagem de navegante eterno.
Posso naufragar em amor e fazer cintilar as estrelas do céu.
À noite, não fecharei os sinos dos meus mistérios.
Abrirei o nevoeiro,
que rompe o coração no desfiladeiro abaixo.
Parnaíba, costa do Piauí, 24 de dezembro de 2017.
FANAL DO AMIGO LÍRICO
para Victor Melo
Não mais a força de antes.
A poesia tem o seu tempo, o meu passou.
A Musa abandona em incerto dia, em hora qualquer.
Sinto que sim, é interior, é orgânico.
É como se a chama de uma vela náufraga apagasse a noite.
Pendula firme e sonora nos primeiros anos, depois desaparece como a badalada de um velho relógio, sem sentido.
Meus poemas foram melhores, no pior casarão de mim.
Este morre sem nascer. Eu tinha o fogo gritando por dentro.
Fênix! Será?
A verdade verdadeira verdadeirinha é que o tempo passa para o futuro.
Poesia é visão, martelo feroz no caminho. Talvez o meu delírio seja o ritmo profético.
O mundo é camoniano.
Muda tempo, muda vontade, muda o pássaro de ontem.
Versos contaminados de tristeza. Poeta triste, homem só, na aguda estação da vida.
A poesia dá-se na recusa, entende? De querer na busca, de apanhar sem desejar.
O meu vulcão criador era um desespero.
Hoje o mar é mansidão abraçando o lírico.
Poeta, amigo, sou: o mais antigo beletrista em ruínas.
FANAL DOS PÁSSAROS NOTURNOS
A noite é o pesar de um silêncio grave.
Pássaros pretos sobrevoam minh’ alma, de repente,
são reflexos de um tempo instável.
Olho de chuva alertado.
Coração de água acordado.
Emboscada de mim.
Na febre sonora que arde – calafrio de sonho a arrastar
as horas, a casa, o deserto, o verão, o indizível, o amor,
cavalgados.
Poeira do que ficou mergulhado na claridade.
Fuligem do que está aterrado.
Horizonte descabelado, ao vento que renasce moinho,
amplidão, vulcão inacabados.
DIEGO MENDES SOUSA nasceu na Parnaíba, litoral do Piauí, em 15 de julho de 1989. Escritor, Jornalista e Advogado.
Elaborou DIVAGAÇÕES (2006); METAFÍSICA DO ENCANTO (2008); 50 POEMAS ESCOLHIDOS PELO AUTOR (2010); FOGO DE ALABASTRO (2011); CANDELABRO DE ÁLAMO (2012); O VIAJOR DE ALTAÍBA (2013); ALMA LITORÂNEA (2014); GRAVIDADE DAS XANANAS (2015); TINTEIROS DA CASA E DO CORAÇÃO DESERTOS (2015); CORAÇÃO COSTEIRO (2016) e FANAIS DOS VERDES LUZEIROS (2017).
Laureado com os seguintes galardões: PRÊMIO OLEGÁRIO MARIANO DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES DO RIO DE JANEIRO (UBE-RJ), em 2009, por melhor livro do ano; PRÊMIO CASTRO ALVES DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES DO RIO DE JANEIRO (UBE-RJ), em 2013, pelo conjunto da obra; e PRÊMIO JOÃO DO RIO DA ACADEMIA CARIOCA DE LETRAS (ACL), em 2016.
Membro titular correspondente da Academia Carioca de Letras (ACL), bem como da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE-RJ). Membro efetivo da Associação Nacional de Escritores (ANE) e Membro do PEN Clube do Brasil.
Na juventude, aos 23 anos de idade, concorreu na sucessão de Lêdo Ivo para a Academia Brasileira de Letras (ABL).
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