A serenidade do zero: um sistema binário depreendido por uma lógica não ocidental
“Quem vive na tranquilidade, que seja mais ativo; quem vive na atividade deve encontrar tempo para descansar. Observa a Natureza: ela te lembrará que fez o dia e a noite.” Sêneca
“A felicidade é um estado de espírito. Se a sua mente ainda estiver num estado de confusão e agitação, os bens materiais não vão lhe proporcionar felicidade. Felicidade significa paz de espírito.” Dalai Lama
A Serenidade do zero, livro de Alexandra Vieira de Almeida (2017, PENALUX) é um livro que salta aos olhos, os poemas parecem discursar com a transcendência, alguns verbetes retomam de forma cíclica como cumprissem um itinerário, erigindo deste modo um belo jogo imagético.
Na escrita do livro, palavras como: estrela, sol, vazio, morte, luz, sombra, sorrisos e crianças, entre outros termos que se repetem, sem se exaurirem em redundância. Há um pendor para irromper sentidos, forjando outros mais suntuosos, acoplando na reiteração um sopro reflexivo e meditativo.
O novo livro de Alexandra Vieira de Almeida atracou em mim na perspectiva de algo binário, porém, contrariando e distanciando-se da matriz ocidental e racionalista, buscando assim um percurso diferente. O zero não é para a autora a nulidade do individuo, é o reencontro com a natureza supra-humana, desassistida nos movimentos cotidianos desta vida. O zero é a busca pelo essencial.
Nesta ideia de sistema binário, o gênero humano compõe-se como o 1, o zero reivindica nas categorias mentais um posto mais elevado. O zero neste contexto é o alvo que deve ser procurado pelo 1, o indivíduo. O zero dentro desta lógica atinge o status de plenitude do ser.
A serenidade tem como endereço a nossa natural e primeira habitação, e os que nela adentram, tem como mandamento afastar-se do rotineiro, caótico, para atingir a concentração e ter como recompensa a paz.
Mas onde encontraremos a serenidade do zero? Está justamente na consciência pacificada, no bem imaterial; algo que precede a palavra, o ruído, ou seja, no silêncio. Para tal exercício não há retórica que traga para si o monopólio religioso e se autoproclame vitoriosa.
Conclui-se em paráfrase e justaposição de pensamentos, aproximando-os e respeitando as direções autônomas de cada um e unindo-os: Alexandra Vieira de Almeida e Dalai Lama “A serenidade do zero é o lugar que encontramos quando nos empenhamos e melhorarmos os nossos valores interiores, independente de religiosos ou não.”
Jean Narciso Bispo Moura é poeta, autor de 6 (seis) livros de poemas, o mais recente “Retratos imateriais”, 2017, é também licenciado em ciências humanas, editor responsável pela Literatura e Fechadura – Revista Digital. Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título A lupa e a sensibilidade, também é autor de 75 ossos para um esqueleto poético (2005); Excursão incógnita (2008); Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (2011) e Psicologia do efêmero (2013).
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