ESPANTO
Um estalo ósseo no meu corpo duro
No frio da manhã de segunda.
O dia nublado em meus pensamentos lentos
Na vertigem conceitual
De uma vã filosofia qualquer…
Me escondia atrás das palavras
Dissolvendo qualquer pensamento sólido,
Sou como a nuvem que se desmancha em água
Na quietude do tempo-exato
Na estabilidade do chão plano.
Nas árvores do quintal os pássaros de canto, silêncio
Das flores que se abrem para os besouros polínicos,
Gotas de chuva na umidade das bananeiras
E os primeiros raios de sol
A encher de brilho o jardim vivo.
CÃO
O olhar esquecido e triste,
Seu corpo negro e peludo
Pincelado de branco os pelos.
O cão vira-lata faminto pelo
Alimento humano que não vivo.
Fazer algo como?
Na minha condição também de bicho!
Deixo de lado para não ver e rejeito
Também assim eu próprio.
O corpo desse cão lembra meu corpo,
Velho e magro embora ainda não idoso.
E a ração, alimento da manhã,
Também comida para a noite
Agora todas vã.
É difícil decifrar teu olhar,
Meu cachorro manso.
E perdão peço a ti pelas vezes
Que lhe causei o pranto.
Nas minhas viagens eu experimento
Essa miséria de cão. No meu regresso
Reafirmo o firmamento. Por mais
Que seu dia esteja próximo, isso
Pode ser a Boa Nova, partir
Desde mundo miserável e
Na morte encontrar possa:
Um profeta ou amigo que
Saiba ter boa prosa.
É-me faltosa a coragem de
Pedir-te o perdão, embora não
Falemos a mesma linguagem
Sinto que compreendes-me, cão.
Mas acho que você talvez nem queira
Falar comigo, pois em seu lugar
Eu já havia assim me esquecido.
PAI
Hoje a bondade está explícita
Em teus olhos, mas a verdade é
Que sempre esteve; assim como,
Em todas as tuas faces.
Mas era débil meus julgamentos
E pendiam lacerado por ti meus afetos.
E sim quem sabe o motivo dessa nova
Virtude são meus próprios olhos
Desventurados por poder partilhar de
Teu pulso forte para com a vida, mas hoje
Vejo-me pecando, sujando teu sobrenome.
Vamos esquecer o rancor. Trago-te
Essas lembranças para unir novamente
O elo do nosso companheirismo.
Bruno Espírito, nasceu em 1995 na cidade de Santa Isabel do Pará. Contemplado com o Prêmio Folheando de Literatura em 2017, na categoria Poesia. É estudante de psicologia, amante de filosofia, tem um forte apego pelas palavras e sempre usou a poesia como um modo de encarar a existência.
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