Uma elegia para o corpo em dois tempos
I
Sinto pelos sais que
oculta a terra e os
corpos que brotam
pelo caminho;
é preciso estar atento ao ritmo contingente do remorso
sob a náusea da cidade;
evite os cruzamentos
as faixas de pedestre
espaços muito abertos;
siga na direção do corpo
este sol estático
sob o calor de mil outros motores;
a sombra de um homem
sobre a natureza chã
da humanidade encontra seu destino ao meio-dia;
-e o que hoje lava a malha espeça
sobre a terra sepultada
amanhã revelará, antes, o impossível caule
que a inverossímil pétala -;
II
não há destino certo
para o corpo, este delicado recipiente de órgãos,
senão o incestuoso fim das
raízes
sob a pele acesa;
e indistinto, sobre o músculo
do asfalto, meio morno
ausculta:
é a marcha obscena das multidões
o coro dos cegos, o riso dos melancólicos
o solilóquio dos profetas
e basta: ante a nula face de um homem
que sobre thanatos e sobre eros
e sob as heras
extrai de si
o eterno do transitório.
Rafael Tahan, (1989) nasceu em São Paulo. Formou-se em Letras na Universidade de São Paulo (USP), onde atualmente estuda lírica contemporânea no mestrado. Publicou Diálogo (2015, Editora Scortecci). Os poemas abaixo fazem parte de um complexo poético desenvolvido em cinco livros – ainda no prelo.
De repente uma geração que se quer universal,mitológica,com ânsia de infinitos de céus e infernos .suas alturas e seus profundos.gosto imenso doque escreves!