o maior amor do mundo
Ontem saltei pela sétima vez
da ponte
A mesma ponte sem rio por baixo
sem trovoadas por cima
Imaginei um oceano
coroando a noite
como um mar de pétalas
que se junta
a um mar de pérolas
que resulta
num mar de pedras
rolando
por baixo da ponte
E o frio era tanto
que abraçar a mim mesmo não bastava
Agarrar o ar
revendo
um barco que aderna
por trás do horizonte
enquanto salto
pela sétima vez
selvagem
Comecei a morrer
pela primeira vez
numa manhã de maio
do ano de 1953.
As irmãs eram tão pequenas
quanto eu
apesar de terem vindo antes.
Bem antes
eu vira a expansão
– ou era aquilo o vagido? –
do universo
e compreender isto
seria uma outra história,
um novo nascimento.
Compreender
que quanto mais vivo estava,
quanto mais minhas pernas cresciam,
mais eu me distanciava
de mim.
A segunda vez,
ou seja,
o começo da segunda vez,
não importa:
títeres já habitavam minhas pálpebras.
As luzes da rua tremiam.
Eu sonhava sombras no berço
e os móbiles
tão antiquados
quanto é possível imaginar,
os móbiles voejavam
e suspiravam mais e mais sombras.
Era este meu canto de ninar:
paredes cobertas de notas musicais.
Seria um bom lugar aquele
se eu pudesse distinguir
o que era afeto e o que era terror.
deus morreu ontem à noite
Com a lua cheia
entre os dentes
e eu te pergunto:
você poderia tocar
meu centro?
No lugar onde estamos
tudo virará pó
Sou um homem
pobre
meus sapatos pesam
poderia estar descalço
poderia estar nu
Mesmo assim você me tocaria?
Se eu fosse verdadeiro
seria só alma
Estou ao teu lado
e você não me vê
Não vou perguntar
outra vez
Lalo Arias (1953 – São Paulo, sp) é autor dos livros de poesia Cidade Desaparecida (Editora Scortecci, 2010), Cartas para Naíma (Editora Patuá, 2014) e Como Ser Anjo (Penalux, 2018) Foi jornalista por mais de vinte anos na área de edição de arte da maioria dos grandes jornais da capital paulista. Foi dono de bar, gerente de pousada, cantor de banda de rock, escrevinhador de manuais de treinamento e viajante solitário. Foi também funcionário público no início da fase adulta. É poeta desde a juventude. Já viveu na maioria das regiões do país.
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Gaato, Jean. Grato pela divulgação do meu trabalho literário, pessoal do Literatura & Fechadura.
Lalo Arias.
Lalo, querido poeta, agradeço pela generosidade em compartilhar a sua poesia com os nossos leitores. Um grande abraço!