FORTUNA CRÍTICA
Interrompidos, contos de Alê Motta
“Interrompidos, estreia literária de Alê Motta, são como faca furando a pele. Coisa de minuto, o tempo
exato de nos afundarmos na leitura e, pronto, já saímos deles doloridos de humanidade. São dezenas de
narrativas curtíssimas nas quais a marca (e a cicatriz) da maldade se espraia, galvanizando as tramas
aparentemente singelas. Os relatos, dominados pela primeira pessoa, são de súbito interrompidos, como
o título da obra anuncia, não por outro motivo senão a ação, nefasta (ou piedosa?) da mão humana. Nada
de deuses, entidades angelicais, altas esferas. Apenas vidas prosaicas, espíritos mundanos, rodapés da
sociedade. Alê Motta mantém o leitor em controlada suspeição, impondo desfechos que surpreendem e
incomodam, frutos de conflitos, ressentimentos e desejos absconsos de seus personagens. Maldosos, os
narradores de suas nano-histórias as comprimem por um único motivo – a destruição do outro, ou de si
próprio. Ante o eu, a alteridade forma, conforma e nos transforma, para o bem e para o mal. Com esses
Interrompidos, Alê Motta já estreia machucando. Ainda bem. A literatura que almeja permanência tem
mesmo de cortar, sem misericórdia, a névoa do nosso olhar naturalizado. ”
João Anzanello Carrascoza
“Interrompidos, livro de estreia de Alê Motta, celebra um formato infelizmente pouco difundido entre
nós: o do microconto. Suas histórias, verdadeiras polaróides de situações invariavelmente surpreendentes,
realizam-se com perfeição nesse formato. Alê é uma mestra do susto, do insólito e do bizarro. E
Interrompidos, que inaugura a carreira dessa autora já tão segura e inspirada, é como uma coletânea de
momentos decantados em que nada falta ou sobra. Escrever demais é mais fácil do que escrever o
suficiente. Saber onde deter a mão, onde dizer a palavra justa que ora esconde, ora revela é para poucos.
Alê Motta faz parte dessa turma brilhante e seleta.”
Adriana Lisboa
“Alê Motta é aquele tipo de escritora que corta. Enxuga. Vai até o osso do cadáver de cada texto.
Minicontos que nos arrancam do lugar-comum. Histórias que nos assaltam. Assustam. Fazem
pensar. Interrompidos é livro destemido. Escrito com coragem. Com sangue. Se for preciso, Alê fere na
própria pele. Deixa a alma de nosso tempo, vil e violento, exposta. Escancara, disseca linha a linha a nossa
rotina mesquinha. Faz da sua palavra uma arma secreta. E, por pior que pareça, bemhumorada.
Alê Motta é perigosa. Feito toda boa literatura. Quando você vê, caiu direitinho na sua prosa.
Marcelino Freire.
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