da magnitude da flor e do cacto”
Se a “magnitude da flor” é a representação do Belo e da Verdade, a magnitude do cacto se manifesta como representação da fonte de alimento capaz de matar a nossa sede quando experimentamos o deserto (da alma, do mundo, das sociedades), e ele também nos da a visão para enxergar além da matéria, pois ele armazena em seu interior água pura. Quando bebemos dessa água alcançamos o sobrenatural, aí percebemos que pelo espírito a distância é só mais uma ilusão. A Física Quântica nos fala sobre o emaranhamento quântico, o entrelaçamento de partículas à distância.
O elemento água é usado pelo poeta como metáfora e símbolo aparecendo explicitamente nos poemas “Fiat Lux” e “Rio Heraclitiano” (Psicologia do Efêmero); como já aparecera antes em “Memórias Secas de um Aqualouco”. Tal elemento é mantido no livro seguinte (Retratos Imateriais), os poemas “Águas e Remos” e “Os Peixes” são dois exemplos. Mostrando que, em um mundo ultra-materialista, o poeta luta com a tímida crença no sagrado; ainda assim professa o milagre da vida. Em “Galáxia” ele novamente reafirma sua fé; tudo foi feito pelo Verbo.
No poema “O Verbo”, o processo de criação poética é sexual, por isso mesmo espiritual. Não importa; ambos os processos, biológico e sobrenatural, são criativos, são atos sagrados; isso resulta em Metanoia; o ato profano acontece quando a linguagem deturpa o que há de mais belo no humano.
O poema “Admoestação” fala da sedução verbal – “as palavras são iscas”. No relacionamento romântico, diante da sedução verbal, se não há inspiração, resta apenas sofrer calado. Porém, o poeta se coloca na pele de Jacó, o escolhido de Deus. Mesmo assim ele corre o risco de perder a voz diante de uma Raquel que seduz pela palavra.
Os livros “Psicologia do Efêmero” e “Retratos Imateriais” se inter-relacionam, se completam, se justificam e se afirmam entre si. O poema “Fogo Inadequado”, que fecha o último livro, é conclusivo: “às vezes escrever poesias é como ter nas mãos um fogo inadequado”.
Poesia é fogo inadequado porque é um fogo roubado dos céus (dos deuses ou dos anjos), não pertence ao humano; poetas apenas dão forma ao barro como faz o artesão, a essência está além do tempo e espaço.
O poeta italiano Eugênio Montale escreveu: “Diziam os antigos que a poesia nos eleva a Deus”, logo abaixo ele completa: “talvez não seja assim quando me leias”, revelando a falta de fé, ou mesmo a ausência ou o distanciamento do sagrado, a carência de uma nova aliança. Isso porque o poeta se contaminou com o materialismo mundano e com os ideais ilusórios do próprio Homem; toda crise existencial é uma crise espiritual, e como escreveu Henry Miller em “A Hora dos Assassinos”:
“Ser poeta era antigamente a vocação mais sublime; hoje é a mais fútil…ele mesmo não acredita mais no caráter divino de sua missão”.
Jean Narciso Bispo tem revelado, a sua maneira, o impasse dessa crise. E como o equilibrista, o poeta caminha na corda bamba da Linguagem, vivencia os extremos com ousadia, porque ele sabe que aqui não há rede de proteção.
Texto maravilhoso! Mateus mostra que a importância de um bom livro, de um bom poeta está na amplitude de sua obra e de leituras.
Obrigado Fabiano, pelas palavras, sempre um incentivo!