O TROCO
(sensibilizado por um poema de Jandira Zanchi)
encho o meu carrinho de alimentos perecíveis
e livros virtuais que guardarei plastificados
como posfácio
lembro do Mesmo na casca semântica deste dia
cinza
não quero ser identificado pelas etiquetas
mas aí está a minha cesta de escolhas escassas
e poucas metáforas
para o poema que devo dedicar à caixa do supermercado
devo falar em linguagem simbólica ou cifrada
para não ofendê-la
ela vai rir como uma etiqueta, ela vai dar meu troco
incerto
e nada digo
não posso deixar a vida ainda mais parca
por questão de centavos
não quero parecer o machão, o poeta ou o panaca
consolo-me com a lembrança de um poema de Jandira Zanchi
tiros na esquina
mas continuo sem saber como reagir ao assalto
sequer se devo reagir ou apenas seguir em frente
preparo-me para fazer outra leitura
dos tiros na esquina
vou me deslocando sem estacionamentos
com medo de perder sem dar o troco
topo com um cara similar
mas não sei se eu sou o produto verdadeiro
um de nós deve restituir a vida do outro
deve haver algum acordo, alguma coisa a ser
simplesmente
dita
antes que entremos
em pânico
II
Entra ano, sai ano
de farelo em farelo
de bagana em bagana
entre o chão
e
dois metros do chão
entre a borboleta
e Bispo do Rosário
Quem faz uma lenda urbana
para o pardalzinho?
₰
Chegas do teu longo passeio de anos
enquanto emagreço entre pedras e marés
chocando o futuro da espera
Mas um coração calejado é um coração pronto
para quando o retorno acontece
trazendo quem sabe alvoroço
e iluminação
Agora, asperge o gelo
escorre teu cabelo
e sobe
*[ANTONIO AÍLTON]: poeta, professor, pesquisador da poesia brasileira contemporânea. Livros publicados: Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (2008, Prêmio “Cidade do Recife” – Categoria Poesia); As Habitações do Minotauro (2001, Prêmio Cidade de São Luís – Poesia) e Humanologia do eterno empenho: conflito e movimento trágicos em A Travessia do Ródano, de Nauro Machado (2003, Prêmio Cidade de São Luís, ensaio). Autor da tese MARTELO E FLOR: Horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea (Curso de Teoria Literária, Universidade Federal de Pernambuco).
Eu gostei muito destes versos de Antonio Ailton. Derramam vida e citidiano com uma linguagem supreendente . Lerei mais, sou aprendiz , gosto de me inspirar nos bons.
Minha gratidão ao Jean Narciso e demais editores deste site pela preciosa divulgação de minha poesia (a qual, neste caso, se o autor não é exatamente inédito – embora carregue o peso do anonimato – os poemas o são. Grato também ao parceiro e poeta Carvalho Júnior pela indicação.Fico feliz com mais esse canal, feito por poetas/artistas verdadeiros para a divulgação da poesia. Vida longa ao Literatura&Fechadura!
Minha gratidão ao Jean Narciso e demais editores deste site, pela divulgação da minha poesia. Mesmo que o autor [eu] não seja exatamente inédito (apesar de carregar o peso do anonimato), os poemas o são. Meu agradecimento também à indicação pelo poeta e parceiro/irmão Carvalho Júnior. Vida longa ao Literatura&Fechadura!
Antonio Ailton, agradeço pela colaboração. Seja bem-vindo!