Os três porquinhos
Decepcionados com
Um mundo onde
Ou você come
Ou é comido
Os três porquinhos
Deliberaram
Sair da pocilga
À noite
Entraram na casa
E assaram os donos:
As maçãs nas bocas.
A justiça revolucionária
Há flores no campo
E nas frestas dos muros
Homens e mulheres vão para o trabalho
(se há trabalho)
Crianças não brincam mais
De roda
A vida e a morte do senhor embaixador estão nas mãos da ditadura
Se ela atender a duas exigências, o senhor Burke Elbrick será
Libertado
Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça Revolucionária
No céu passa um avião
Passam dois aviões, indo
Alguém espera alguém
Voltando
As nuvens querem se despir
De tanto calor
A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra
Deve ser feita nos principais jornais do país
A ditadura tem 48 horas
(quantas batidas por minuto
no coração
do senhor Burke?)
Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam
Espancam
Espoliam o povo
Matam:
Não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa
Há um poço
Um barulho de água
Barbas de molho
Uma mulher finge que cozinha:
Olho por olho
Dente por dente.
Transição
Mataram o menino
Na trincheira
O menino cor de rosa
Que pintava o cabelo
De azul
O menino do riso largo
Feito uma fatia da Lua
Quem o visse
Pela rua
Teria dúvidas
Se era
A menina ou o menino
Mais bonito do mundo.
ADRIANE GARCIA. POETA, nascida em Belo Horizonte, MG, cidade onde reside.
Em 2013, seu livro Fábulas para adulto perder o sono ganhou o Prêmio Paraná de Literatura, na categoria poesia. Lançado pela Biblioteca do Paraná, teve segunda edição pela Confraria do Vento. Em 2014, publicou O nome do mundo, poesia, editora Armazém da Cultura; em 2015, publicou Só, com peixes; e em 2016, Embrulhado para viagem, na Coleção Leve um livro, organizada por Ana Elisa Ribeiro e Bruno Brum.
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Prazer enorme descobrir aqui essa poeta com sua poesia ao mesmo tempo tão deliciosa e tão reflexiva.
Acima das palavras – Essa luz quevpaira! Adriane…