Capas: Felipe Stefani
A ESTRADA E A ESTRELA
Entre a estrada e a estrela é uma novidade surpreendente
Por Fernando Py
O novo livro de poesia de José Inácio Vieira de Melo, Entre a estrada e a estrela (Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2017), é uma novidade surpreendente. Composto de apenas dois poemas longos e complementares, ‘O mundo foi feito pra gente andar’ e ‘Na esteira do infinito’, revela um poeta que alcança seu máximo poético até hoje, podendo ombrear-se aos que já atingiram patamar semelhante, como Joaquim Cardozo, Gerardo Mello Mourão, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, etc. E isto devido a um trabalho cuidadoso de linguagem e expressão. Em ‘O mundo foi feito pra gente andar’, o poeta informa que está (caminha) no mundo sem saber o que isso significa. Aos poucos vai andando, alargando seus caminhos e horizontes, onde “o firmamento é o ponto de partida / para a tua caminhada cósmica”, o que de certo modo antecipa a segunda parte do poema. O verso que dá título à primeira parte se transforma em leit-motiv e é repetido várias vezes, fortalecendo a ideia de andar, marchar por diversos espaços, desde a infância, reconstruída à memória. E o poeta observa: “Para não de desesperar / no meio da travessia / é preciso poesia.” E mais adiante acrescenta: “Sou um pedaço de terra que vaga deserto no Universo.”
JIVM: “Sou fruto do delírio e do improviso”
E o poeta inicia a segunda parte, ‘Na esteira do infinito’. Temos então um novo andarilho: aquele que percorre estrelas, constelações, galáxias, quando, “Fonte do delírio e do improviso, / o Universo (…) / cabe todo / dentro deste poema inacabado / e, por isso mesmo, infinito.” O poeta se diz reduzido a uma partícula subatômica, lutando contra a gravidade. E é curioso perceber que mesmo andando em pleno Universo, o poeta não deixa de lado seu pendor ao erótico: “e os lábios da Musa se abrem / para receber minha língua / que transmite os fluidos da criação.” São versos que preludiam os doze versos seguintes, todos dedicados à esposa, cujo ser se expande, em calmaria, até as estrelas, e estas, dançando e rebrilhando, vão formar a constelação que leva seu nome: Linda Soglia. E o poeta mais além confessa: “Sou fruto do delírio e do improviso.” Daí por diante, o poeta “viajando pelo Cosmo, montado no Infinito,” sente o elo que o liga aos ancestrais, e diz, para finalizar: “Danço sobre a chama / e em meus olhos sorri o Infinito. // Bem aqui dentro, / no portal dos sonhos, / no altar dos tempos.” José Inácio Vieira de Melo terá registrado aqui uma possibilidade maiúscula para a sua obra futura?
Foto: Ricardo Prado
FERNANDO PY, crítico literário, tradutor e poeta carioca. Colaborou em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, principalmente O Globo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, Estado de Minas e Correio do Povo. Trabalhou como redator e tradutor em enciclopédias, sobretudo a Grande Enciclopédia Delta Larousse e a Enciclopédia Mirador Internacional. Traduziu obras de autores importantes, como Marcel Proust, Marguerite Duras, Honoré de Balzac, Saul Bellow e vários outros. Como colunista literário, atualmente assina a seção ‘Tribuna Literária’ na Tribuna de Petrópolis.
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