Abismo sem nome
i.
sempre surge
do vazio
a solidão num silêncio
imperativo que se
entedia
não há quem lhe pariu
no início, sozinha
{gozava?}
talvez na combustão
de um desejo
arredio
o cosmo
tal qual um barril
de pólvora
ejaculava
ii.
na noite do mundo
pairava um útero
sozinho
dizem alguns
deu a luz
e sementes povoaram
os céus
explodindo a granel
pirilampos de hidrogênio
arrebentado
o útero
ainda sangra
escorrendo
o que chamamos
tempo
espalhando
seus gomos
no silêncio
iii.
foi perdendo a cor aos poucos
e não adiantou tomar sol
café ki-suco tang
os contornos também
foram se esvaindo
ficando borrado
meio incerto onde começava
ou terminava
desanuviou
depois tentaram de tudo
pra ver se voltava
queimar poemas
numa encruzilhada
fazer romarias
com versos do ginsberg
costurar tipos móveis dentro
da barriga de um sapo
até colocaram seus manuscritos
dentro do forno
e ligaram o gás
e nada
ele não choveu
Philippe Wollney, nasceu em Goiana-PE, 1987. É poeta, editor, produtor cultural e pai de Nina. Organiza intervenções artísticas, recitais, saraus, publicações e outros atentados poéticos na zona da mata pernambucana. Coordena o selo editorial Porta Aberta. Publicou os livros Ruinosas Ruminâncias (2017), Desassossego: Poemas para desastres sentimentais (2017), Mas esse ano eu não morro (2016), Caosnavial: ou o sabor sujo (2016) entre outros.
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