Livro de poemas Balada do crisântemo fincado no peito estabelece uma narrativa poética sem cenários, sem cochias, para mimetizar relações
afetivas
por Fernando Andrade
O corpo é uma organização com seus inúmeros órgãos que categorizam ou que põe nomes. Catalogar sentimentos só é possível numa sessão de análise ou numa grande corporação onde métodos são séries classificatórias. É possível? apenas viver sem denominar ou rotular uma relação, deixar as operações ou engrenagens do braço-abraço da perna-andança, sem dar a menor pinta para neurose que potencializa tantos cansaços, tanta mordacidade, pois o que vemos na outra pessoa? porque ela precisa ter um problema\ emblema, a narrativa já não tipifica toda a representatividade do catálogo humano.
O poeta Marcio Dal Rio, tece uma narrativa sem locação sem cenário, no seu livro de poemas Balada do crisântemo fincado no peito, editora Reformatório, ( prêmio Maraã de poesia em 2016) Mas há um fio invisível costurando seus poemas sobre uma relação carnal entre um narrador não identificado com suas musas. Personas ou máscaras femininas, o poeta coloca no caminho do seu narrador, mas o faz com extrema destreza vocabular e imagética criando cenas malucas ou surreais, sempre com o mote-fio da flor crisântemo.
Um jogo especular com a frase tema: teamo, numa quase paródica e desgastada relação de posse ou ciúme entre parceiros, entre casais. Marcio nunca estabelece uma ação discursiva entre macho e fêmea. Suas ações-poemas são mimetizadas pela sugestão do que pode ou poderá suceder nas volições do tesão, no embate entre sexualidades.
Cabe também um vasto repertório de ligações afetivas com canções ou artefatos da arte que sempre intermediam uma relação. Quem nunca teve uma canção de amor ou de briga, que dentro de décadas na posteridade ficaram gravadas na lembrança. São marcas e referências à um mundo do capital. Do preço escamoteado no apreço. Não sei, mas parece que vivemos num mundo um tanto volatizado pelo mercantil.
Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Está lançando esta semana o quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
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