Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Está lançando esta semana o quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
Você que ouve e lê, coisas seriam?
Iscas para os signos.
Se não há nomes, faces
Para as coisas
E nem muito de você
Seguimos eu, tu, ele e nós
Neste avesso das coisas
Onde tudo é dia\ data e mês
Sem contudo identificar
O estatuto das coisas
De onde elas ficam? o que são?
E para onde vão no vão de quê?
É o lugar das lousas.
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Eu tinha uma dor
E por cima
Eu vestia meu pulôver.
Ele era de uma cor
De botar na minha cara
Um revólver: lembro-me bem disso.
Vocês não imaginam
Eu o comprei numa liquidação
Por uma quantia inimaginável.
Eu tinha uma dor
E por cima
A vestia com meu pulôver.
O vendedor me disse que tinha sido
De um velho cobrador de pôquer
E que alguém um dia o botou numa aposta.
Ele já tinha passado pelas mãos de um assassino de aluguel
Que o usava nas noites de pague mais para ter de volta sua vida.
Eu tinha uma dor
E por cima
Não vesti mais meu pulôver.
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