um zumbido q ouvimos de longe
como chamar isso? não sei
pensei em nomes q não dizem nada
os ouvia ecoando perdidos
distante da minha casa
sinto como um monstro nas costas
não há saber q alivie o peso
todos sentimos uns muito uns
pouco uns mais uns menos
aqui em casa sentimos há tempos
o voo obsceno das vespas ecoa
um zumbido q ouvimos de longe
trazendo um peso como dum monstro
cujo nome ignoro
não por querer mas por não saber
como chamar isso? não sei
sinto a baba caindo sinto
a espinha dobrando queimando
músculos adormecendo membros
quando não durmo pouso toalhas
geladas sobre as costas
levaria o monstro pro mar talvez
mas o enxame de vespas cobre o sol
cobre o céu porisso não vou pra rua
músculos queimam membros adormecem
o tombo com a cara no meiofio
ouço o zumbido de longe
queimando minha cabeça partida
como chamar isso? não sei
pensei em nomes gostamos
das coisas com seus nomes
mas há tantos ecoando perdidos
se falasse vespês gritaria
daqui de baixo vemos
os cuzinhos das vespas
daqui de baixo vemos
a merda velha e seca
gargalharia das suas
antenas tremendo de ódio
mas da minha casa
não podemos fazer nada
os cornos brancos dos rinocerontes
minha testa continua lisa
pro bem ou pro mal
nenhum corno rasgou minha cara
asiático nem africano
tomaram as ruas
um a um todos se tornaram eles
jovens velhos sãos doentes
homens mulheres ricos pobres
começa com uma dor
de cabeça nos jovens como
nos velhos depois a pele
já não é macia nem fraca
nos sãos como nos doentes
a febre arde ossos a febre arde
carne arde olhos
tanto homens como mulheres
ganham força animal
então são os cornos
a beleza da transformação
tanto ricos como pobres
belos cornos brancos
rasgam suas testas
logo florescem rosas lindas
grandes entre a merda
minha testa continua lisa
passo meus longos dias olhando
no espelho esperando meus cornos
brancos grandes fortes
tomaram as ruas
enquanto me escondia enquanto
os amaldiçoava tremia agarrado
aos joelhos curvados
por q deus faria isso?
qual pecado de morte
levantou sua ira?
um a um todos se tornaram eles
a diferença são os cornos
uns têm dois uns têm um
asiáticos ou africanos? não sei
são da pele mais dura e branca
rasgam suas testas
logo florescem belos
cornos brancos como neve
tanto ricos como pobres
a febre arde ossos a febre arde
carne arde olhos tanto homens
como mulheres tanto
sãos como doentes
minha testa continua lisa
tomaram as ruas
os olho os odeio
mas desejo seus cornos
pro bem ou pro mal
passo meus longos dias olhando
no espelho tremendo agarrado
aos joelhos curvados
nenhum corno rasgou minha cara
todos são eles cantando
enquanto me escondo
os amaldiçoo não param
asiáticos nem africanos
saem de sob minha janela
numa vigília sem fim me chamam
com melodias doces e acolhedoras
belos cornos brancos como neve
os desejo de dia os desejo de noite
rosas lindas e grandes florescendo
na merda q são meus longos dias
edwardhyde
na manhã do último dia 16
acordei transformado em hyde
tive sonhos tranquilos de q o
monstro q sou tinha partido
o sol entrou pela brecha
nas telhas rasgando a única
paz q sempre tive
percebi q o monstro tava ali
mãos ásperas e cabeludas
olhos fundos e sem brilho
quebrei o espelho com a cabeça
mas o monstro não partiu
na manhã do último dia 16
entendi q não tenho controle
sobre hydeq agora é por
inteiro tudo o q sou e fui
entendi q nada de mim restou
nem palavras doces ou gestos
suaves nem a calma dum abraço
ou o calor do sol do verão
só as pernas curtas e tronchas
os dentes podres e fedorentos
soquei minha própria cabeça
q agora é dele
na manhã do último dia 16
meu medo foi embora
o medo q fez o q sempre fui
substituído pelo ódio ardente
hydeq desde então sou eu
não conhece limites pro monstro
seu interior vazio e escuro
consome tudo ao seu redor
tive sonhos tranquilos de q o
monstro q sou tinha partido
soquei minha própria cabeça
o monstro inda tava ali
na manhã do último dia 16
me entreguei à tragédia
num belo dia de sol
bom pra ver o mar
hyde é o melhor q posso ser
tudo q meu velho eu
lutou contra toda vida
hoje tá em mim
com suas unhas quebradas
e com sua boca murcha com seus
cabelos poucos e suas costas
curvadas pro abismo
geovanneotavioursulino – historiador. vive em maceió. é editor da revista alagunas [www.alagunas.com]. publicou os livros de poemas “como num inferno pra marinheiros” [maceió: imprensa oficial graciliano ramos, 2017] e “os gigantes atravessam o eufrates” [são paulo: editora patuá, 2018]. escreve no blog amorfo poema [www.amorfopoema.tk]. e-mail: ursulino@alagunas.com
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