Três poemas de Franck Santos

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Sobre a mesa
tinha uma bandeja de louças brancas e café com leite
bolo de maracujá
e um continente, separando nós dois.
Sobre a mesa tinha também
livros de poesias
e na noite que começava tinha uma varanda com um jardim
um blues que não ouvíamos
e um continente, separando nós dois.
Bastaria estendermos as mãos, sobre aquela mesa
deslocaríamos placas tectônicas
faríamos abalos sísmicos
em qualquer país.
Minhas noites nunca mais foram as mesmas
desde aquele continente separando nós dois
e na ilha que me fiz.

 

 

****
Devolvi ao mar as conchas que me deste
delas
fiquei com o maremoto
Daquelas tardes.
e nenhum verão.

 

 

***

Naquele outono ele disse que iria para o norte
que adestraria ursos para hibernarem no verão
quando o céu ficaria mais azul
os dias se alongariam e na floresta as árvores perderiam o colorido das folhas
e flores e frutos
os rios se tornariam filetes d´água.
Naquele outono ele migrou deixando o sul
seus livros
sua varanda em que passava os fins de tarde
seus cafés
seus discos
uma quase paixão.
Adentrou na floresta numa noite de lua, em busca dos ursos,
que dançavam para o acasalamento
os quais ele adestraria para não mais tomar banho de rios
nem uivar para a lua, mas sim, atender mímicas,
porque ele faria dos mesmos espécimes de circo
acrobatas nunca vistos.
Naquele outono
ele comeu da fauna e da flora da floresta que tinha adentrado
assim como experimentou chás de todas as ervas
aprendeu cantos de pássaros
visitou aldeias
perdeu roupas
deixou crescer barba, cabelo, unhas,
percorreu veredas, rios e pântanos.
Quando o outono se fez outra estação, talvez inverno,
os ursos domados
ele sentiu frio e numa caverna entrou para hibernar.
Na cidade, na sua casa,
um casal de ursos passaria aquela estação
hibernariam no urbano que foi dele.

 

 

Franck Santos é um homem comum, ilhado em São Luís, cidade esta que tem mar, porto, muitas histórias, sol e céu azul o ano inteiro, mas prefere dias nublados e chuvosos, uma casa no campo, vinho e blues.
Os três poemas integram o livro ‘Poemas para dias de chuva’ (Editora Patuá),tem publicado também ‘Quando o azul não desbotava’ (Prosa Poética, Penalux), ‘Do lado de cá do Atlântico’ (Romance, Penalux) e em agosto sairá ‘Os mapas sinalizam ilhas submersas’ (Poemas, Penalux).

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