Não haverá
Não haverá margem para homens coesos até que morram numa barricada de ignorância
Até que a inteligência seja saqueada
Até que a estúpida burrice devore
Até que não sobre alma lúcida
Até que a massa cinzenta seque
Até que corpos apodreçam
Até que o país devaste
Não, não haverá,
Não haverá sinal de vida inteligente nesta terra de ódio nem talvez em mundo algum
Um sentimento
Um acúmulo de vazio tomou-lhe de assalto enquanto atravessava o viaduto
O vazio nas sobras de concreto, nos dormentes ao relento, na civilização fendida
O vazio no campo envelhecido de pelos brancos que saltavam a puída regata
O vazio nos carros estáticos sem qualquer alma em desordenada condução
O vazio
Cada crápula
Cada crápula um dia de apodrecimento numa ilha perdida no Pacífico
Cada crápula o rosto tóxico num parlamento já corroído
Cada crápula o demagógico colarinho de amebas vetustas que se nutrem
Cada crápula uma sentença de morte e de esquecimento
Cada crápula um enriquecimento de soda e estrume
Cáustico momento em que os crápulas tornaram-se maioria numa terra carcomida pelo
sol ácido de uma manhã de eterno domingo.
Marcio Dal Rio nasceu em Mococa-SP, em 1973, e vive em São Paulo desde os anos 90, época em que Participou das coletâneas Palavras de Poetas 3 e 4 (Editora Physis, 1994 e 1995). Desde 2006, escreve o blog Bloganvile, atualmente alojado no site www.marciodalrio.com.br. Uma seleção de poemas do blog foi publicada no coletivo Transitivos (Off Produções Culturais), realizada em 2011 com amigos autores de blogs, com apoio do PROAC-SP. Em 2016, participou do Curso Livre de Preparação do Escritor (Clipe), da Casa das Rosas, e desta experiência, teve poemas publicados na antologia Curva de Rio (Editora Giostri 2017). Neste mesmo ano, venceu o Premio Maraã de Poesia, promovido pela Editora Reformatório com apoio da Academia Paulista de Letras, por meio do qual teve seu primeiro livro solo publicado, “Balada do Crisântemo Fincado no Peito” (Editora Reformatório 2017). Em 2018, publicou, também com os amigos do Clipe, a antologia “Carne de Carnaval” (Editora Patuá).
O crisântemo continua afiado, rrcortando tristes cenários…