Livro Remorsos para um cordeiro branco utiliza a poética para embaralhar memórias, leituras e desenhos de Cuba.
FERNANDO ANDRADE
A poesia de Reina Maria Rodrigues me lembra um vasto campo de café ou uma planice de plantação de café. Talvez pela relação de grandeza entre o espaço aberto que vemos com as árvores que costumam ser baixas e cheinhas e a frutinha do café que some pelo olhar do homem ou mulher que passeia pela plantação. É preciso uma certa dose de proximidade com as árvores para ver como é a fruta qual? cor qual? tonalidade, chegar perto de um pé de café é um pedido de afetividade. Esta relação de distância entre o que é longe mas que se modifica ao se aproximar tendo contato com a intimidade do elemento da substância que ao ser solúvel é um signo de estímulo ou estimulante não nos deixa quietos ou sonolentos.
Mas porque eu estou à falar de uma plantação de café? se nem sei se Cuba é um país plantador da substância solúvel que adicionada à água e que nos dá a imagem narrativa de uma borra do resto da mistura do pó à água deixada no fundo de uma xícara. Tal qual mistura do destino, uma leitura de uma biografia. Mas ao nos deixar lépidos e atentos, o café nos introduz aos elementos da análise literária. Da relação entre vida biográfica, País, paisagens, formas de ver o que esta oculto, ( assim como não vemos a fruta-café ao estarmos distantes dela).
Para isso, a poeta Reina Maria Rodrigues em seu livro de poemas, Remorsos para um cordeiro branco, Editora Penalux, ( tradução de José Eduardo Degrazia) utiliza a semiologia da poética, de escrever sob o manto da sombra, da penumbra do que não é legível à vista, por uma questão ou de tradução de um língua à outra, o que fica escondido numa tradução? língua-cultura, ou por se desconhecer os eventos; os fatos daquela narrativa pelo qual a poeta memorializa em seus poemas. Para cada poema, uma nota musical com se fosse um mote ou uma melodia que ela coloca dentro de um grão de café tal qual uma semente é um potencialidade do fruto em questão. São tapecarias sobre pianos, lembranças da ilha, localizações afeto-espaciais que Reina com uma linha de costura cinematográfica mimetiza dentro do esco(r)po do poema. A poeta trabalha também referências com seu DNA artístico, leituras, gostos por autores, por lides de personagens que trafegam e passeiam pelo espaço sem fronteira dos livros.
Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Está lançando esta semana o quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
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