Três poemas de Adrian’dos Delima

ADRIAN DE LIMA 300x300 - Três poemas de Adrian’dos Delima

 

 

PESSOAS DA CASA REAL

chegou o frio
não chegou ninguém
chegou uma van
dos crentes com sopinha
chegou o polícia e me chutou
não pode dormir aí vagabundo
não pode dormir aí vagabunda
tua mãe era prostituta também
todos na tua família são vagabundos
e juntamos nossos trapos
e vamos lá
              pelo tobogã
isto me lembra o melhor de Eliot
descendo uma encosta
ou algo assim aristocrata
um dia achamos nossa marquise
onde seremos mais

Com a sensação da morte próxima
a passo rápido
pisando pesado o meu peito
não vivo
arrasto meus pés para
a injeção letal
me arrastam
e se caminho
chego a dar passos pra trás
estou não vivo
e não sobrevivo com o otimismo de alguns doentes
e não sou doente com o orgulho de alguns sobreviventes

sou fraco
estou fraco
tenho uma mente fraca
vestida em trapos
trocando sem parar o canal da TV

estou prostrado
estou besta
estou doente da alma
e doente da alma
é doente de nada

o que me reduz por engano
a um grande contador de fábulas

a água é insípida
o café que faço tem gosto
horrível de água da torneira
isso mesmo
na torneira tem água
eu nem deveria reclamar
muitas torneiras estão sem uma gota
muitas casas nem torneira tem
nem tem água nas redondezas
80% das doenças são por água contaminada
uma empresa cervejeira faz marketing
com a distribuição de água
a cerveja tem gosto bom
de onde vem a água da cerveja não sei
deve ser uma água insípida

 

 

Adrian’dos Delima (1970, Canoas, RS), pseudônimo para Adriano do Carmo Flores de Lima, é poeta, tradutor, teórico de poesia e compositor. Cursou Letras, habilitação Tradução na UFRGS, onde não se graduou em função de dificuldades econômicas. Na década de 1990 publicou poemas em antologias e  fanzines fotocopiados que editou com amigos, além de editar e publicar no jornal  “Falares”, dos estudantes de letras da UFRGS. Seguindo seus estudos como autodidata, posteriormente publicou em revistas de papel e online, como a Germina, a Babel Poética, InComunidade, Sibila, Mallarmargens, Gueto, Diversos Afins, Subversa e outras. Publica, sem muita regularidade, traduções e poemas próprios na sua página Rim&via (partidodoritmo.blogspot.com.br). É autor dos livros “Consubstantdjetivos ComUns (Vidráguas e Gente de Palavra, 2015)” , “Flâmula e outros poemas (Gente de Palavra, 2015)” e “O aqui fora olholhante (Vidráguas, 2017)”.

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