FÁRMACOS
A psiquiatria ganha lugar
na feira de liquidação.
Na alegria imediata
do simulacro:
adestrar psicopatas.
Antidepressivos
para curar as feridas
da alma
ou esquecer a amada
[que antes
do beijo toca fogo
nos lábios].
Na cabeça, uma ampulheta,
nas mãos, borboletas fugidias,
em todos os caminhos,
nenhum destino:
apertar o botão abismo.
SEM GARANTIA
Nos ventos alísios
tudo tão coerente
e a flor amanhece
em sol poente.
Não há deserto
de retirada,
o cúpido não
tem asas,
as magnólias
são ignoradas,
a solidão pede errata
e a vida exige
código de barra.
DISCORDÂNCIA
Não me conformo
com os atropelos
da rotina, os ratos
que se abrigam nas epidermes
dos bueiros celestes,
os nomes queimados
na fogueira da maldade.
Não me consumo
em obesidade de costumes,
na incapacidade de sentir
o soco no estômago
na obrigação de oferecer
a outra face.
Em poros entreabertos
o medo que se infiltra
na solidão dos lares:
é dilacerante escolher
a pior parte.
Tito Leite nasceu em Aurora/CE 1980. É poeta e monge, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de ensino de Filosofia, com ênfase em Filosofia Política, Ética, Filosofia da Ciência e da Tecnologia. Autor do livro de poemas Digitais do Caos (Selo edith, 2016).
Tito, gostei de seus poemas. Imagens fortes: ratos e bueiros celestes; antes do beijo toca fogo nos lábios.
Honrado em conhecer pessoalmente a mente que exprime tais versos …