Três poemas de Alfredo Guimarães Garcia

8deAGOSTO - Três poemas de Alfredo Guimarães Garcia

 

 

 

A GENTE PERDEU PARTE DO SORRISO

Para Obdias Araújo

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Ele ficou em qual dobra do tempo
Como um uivo lancinante
Ecoando na memória?

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Os dentes rangeram medos,
A boca tremeu indignada,
Os beijos brotaram ácidos.

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Madrugaram nossos sonhos,
Um dia acordamos inertes
Diante da estupidez humana.

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Numa noite de 1987
Eu e o poeta Obdias Araújo
Mandamos à merda as convenções.

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Mas aquele brilho vívido
Eu creio que sobrevive
Apesar da miopia e catarata.

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Nunca mais andaremos ébrios
Dançando com as nuvens
Na Rua João Alfredo solitária.

A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Agora nos resta este meio sorriso
Essa vida que pesa nos ombros
E uma saudade-espátula na mesa.

 

 

O AMOR COM SEUS OLHOS DE INCÊNDIOS

O amor com seus olhos
De incêndios e silêncios
Trazia na mão esquerda
O punhal
Que rasgaria meu ventre.

O amor com seus olhos
De lava
Tinha nos lábios
A seta semovente
Que me atravessaria
O peito do lado esquerdo.

O amor com seu
Olhar de vendetta
Tinha sangue
Nas pupilas
E uma machete
Oculta entre as melenas.

O amor desancou
Meus pretéritos
Meu falso ar
De moço bom
Canalha hipócrita
(Eu que cravara nele
A sarracena da perfídia).

O Amor atou-me
Aos poucos
No corrimão
E me chicoteou
Com o verbo.

O amor estendeu-me
Ás mãos contritas
Disse vai com olhares
Mas não fui.

O amor me redimiu
Eu, apátrida,
Que recebi
O perdão
Como se fosse
A bênção.

 

 

O CHEIRO DA TUA CARNE AINDA ESTÁ AQUI

O cheiro da
tua carne
ainda
está aqui.

Perfume
dos sonhos
desvarios
rios que
são incêndios.

O cheiro da
tua carne
ainda
está em mim.

Mesmo que
exale outro
odor atípico
ele entranha
na memória.

O cheiro da
tua carne
transuda
em mim.

Inútil que
use Phebo
Eau Marine
é visgo
na pele.

O cheiro da
tua carne
ainda
está aqui.

Aqui é
lugar do onde
do sempre:
tua carne
no agora.

 

 

 

Alfredo Guimarães Garcia é o nome literário de Joaquim Alfredo Guimarães Garcia, paraense nascido em Bragança em 1961.

Há mais de trinta anos (1985) o escritor vem construindo sua história na literatura brasileira com livros de contos, poesia e crônicas, além de diversos títulos em literatura infanto-juvenil com mais de quarenta livros já publicados.

É bacharel em Comunicação Social, especialista em Teoria Literária e Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará. Atua como professor do ensino superior no curso de Comunicação Social/Jornalismo da Estácio Fap, em Belém do Pará, desde 2010.

Contato: E-mail: alfredogarcia61@gmail.com  / Fones: (91) 3353-1779 ou 98453-9496.

 

 

 

 

 

www.literaturaefechadura.com.br

www.editorafolheando.com.br

 

 

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This Article Has 2 Comments
  1. Moniquinha Pacheco Reply

    Amei

  2. Moniquinha Pacheco Reply

    Foi muito bom sua palestras

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