A GENTE PERDEU PARTE DO SORRISO
Para Obdias Araújo
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Ele ficou em qual dobra do tempo
Como um uivo lancinante
Ecoando na memória?
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Os dentes rangeram medos,
A boca tremeu indignada,
Os beijos brotaram ácidos.
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Madrugaram nossos sonhos,
Um dia acordamos inertes
Diante da estupidez humana.
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Numa noite de 1987
Eu e o poeta Obdias Araújo
Mandamos à merda as convenções.
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Mas aquele brilho vívido
Eu creio que sobrevive
Apesar da miopia e catarata.
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Nunca mais andaremos ébrios
Dançando com as nuvens
Na Rua João Alfredo solitária.
A gente perdeu parte do sorriso,
A gente sempre perde.
Agora nos resta este meio sorriso
Essa vida que pesa nos ombros
E uma saudade-espátula na mesa.
O AMOR COM SEUS OLHOS DE INCÊNDIOS
O amor com seus olhos
De incêndios e silêncios
Trazia na mão esquerda
O punhal
Que rasgaria meu ventre.
O amor com seus olhos
De lava
Tinha nos lábios
A seta semovente
Que me atravessaria
O peito do lado esquerdo.
O amor com seu
Olhar de vendetta
Tinha sangue
Nas pupilas
E uma machete
Oculta entre as melenas.
O amor desancou
Meus pretéritos
Meu falso ar
De moço bom
Canalha hipócrita
(Eu que cravara nele
A sarracena da perfídia).
O Amor atou-me
Aos poucos
No corrimão
E me chicoteou
Com o verbo.
O amor estendeu-me
Ás mãos contritas
Disse vai com olhares
Mas não fui.
O amor me redimiu
Eu, apátrida,
Que recebi
O perdão
Como se fosse
A bênção.
O CHEIRO DA TUA CARNE AINDA ESTÁ AQUI
O cheiro da
tua carne
ainda
está aqui.
Perfume
dos sonhos
desvarios
rios que
são incêndios.
O cheiro da
tua carne
ainda
está em mim.
Mesmo que
exale outro
odor atípico
ele entranha
na memória.
O cheiro da
tua carne
transuda
em mim.
Inútil que
use Phebo
Eau Marine
é visgo
na pele.
O cheiro da
tua carne
ainda
está aqui.
Aqui é
lugar do onde
do sempre:
tua carne
no agora.
Alfredo Guimarães Garcia é o nome literário de Joaquim Alfredo Guimarães Garcia, paraense nascido em Bragança em 1961.
Há mais de trinta anos (1985) o escritor vem construindo sua história na literatura brasileira com livros de contos, poesia e crônicas, além de diversos títulos em literatura infanto-juvenil com mais de quarenta livros já publicados.
É bacharel em Comunicação Social, especialista em Teoria Literária e Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará. Atua como professor do ensino superior no curso de Comunicação Social/Jornalismo da Estácio Fap, em Belém do Pará, desde 2010.
Contato: E-mail: alfredogarcia61@gmail.com / Fones: (91) 3353-1779 ou 98453-9496.
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Amei
Foi muito bom sua palestras