claramente
não quero ter que pensar em cores
ainda que para isso
seja preciso pensar em cores
poderiam me apontar o fato
não tão óbvio
de ser branca:
você não tem cor, diriam
você é branca
na rua, as pessoas
te atravessam
poderiam me dizer
que as grandes cidades
são as grandes culpadas:
na espera, os cruzamentos
são incapazes
de fixar olhares
mas se eu existisse
em outro lugar
de menos hipóteses esperas
se eu não precisasse pensar
em cores cidades culpadas
eu até poderia apontar o fato
muy muy claro:
yo soy la mezcla
y la antíteses
de todos los colores
estratégia
se ele inflar
conte uma história ao baiacu
deite o baiacu numa chaise chiquetosa
de coral de baiacu
faça o baiacu soltar o ar entre as guelras
nas aulas de yoga de baiacu
para que se sinta em casa
traga os amigos do baiacu
os contatos do baiacu
a família do baiacu
sirva ovas de outras espécies
que não sejam baiacus
deixe que se alimentem
entre baiacus
vire você mesmo
um baiacu-estátua
enquanto estiver entre
os baiacus
quando torrar a paciência
dê uma minhoca
e um anzol
ao baiacu
assepsia
de súbito pensei por que
tanto espanto
ao ver o sabonete Protex
em cima da prateleira
ereto e convincente
de onde eu via
em posição de alívio
pensava: afinal
por que haveria de querer
me livrar
de 99,9% de minhas
bactérias?
Carolina Conceição Sanches Lopes, conhecida como Carol Sanches, nasceu em Campinas em 1981. É mãe de duas meninas, poeta e redatora publicitária formada pela ESPM. Publicou em revistas digitais e foi uma das selecionadas para fazer parte do CLIPE 2018 – Curso Livre de Preparação do Escritor – da Casa das Rosas, São Paulo. Os poemas aqui selecionados fazem parte do livro Não me espere para jantar (Patuá, 2019), menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2018.
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