Lilian Sais. Acúmulo. Editora Patuá. 2018.
Livro de poemas Acúmulo propõe uma escrita catártica e visceral.
por Fernando Andrade
O tempo da vida é uma flor que se mantém tesa? Mas qual? visão temos recondicionada da flor? Flor, a planta mais condicional da biologia terrestre. Nos olhos dela e para os outros nos mantém sempre a beleza. Porém a flor murcha, fenece, morre. Para além do seu vernáculo semântico que nos condiciona nas mais variadas condicionantes culturais, temos que partir para uma questão mais intensa-interna, como se a flor tivesse um esqueleto cuja forma pudesse ser de um cadáver. Um cadáver de flor. Na sua feiura, é possível ver os opostos quando os olhos só veem a beleza?
No campo da poesia, temos um vasto saber sobre os sons e sua beleza estética que palavras podem soar tanto aos ouvidos mais exigentes quanto ao estudo da grafia. A imagem da palavra-grafada. Mas o poeta, pelos menos pelo pouco que entendo, se faz da sujeira das palavras bonitas, o que vão no vão delas. E do mundo que ele (poeta) recolhe feito um gari do mundo ecologizado. Aí, pergunto? com o poeta pode dialetizar perante a beleza das palavras, o subterrâneo que corre dentro de suas veias, sua assinatura mais sanguínea, mais visceral. Trazer o magma-espúrio do humano; das larvas podres que fertilizam o inanimado, o desenho humano animado das sombras de cavernas platão-nescas, este é o artefato de uma cantautora que opere cirurgicamente a linguagem pela natureza da espécie humana.
Lilian Sais em seu livro Acúmulo, editora Patuá, parte de uma experiência que é inteiramente sua, mas compartilhada com e para o outro. Uma das posições mais difíceis é falar de si, ainda mais como poeta, tendo em vista, uma co-identificação com o sentido do outro. Aqui Lilian poderia se apegar à uma experiência biográfica testemunhal de seu viver em São Paulo, costurar um eu-narrador poetizado aos acúmulos de fatos-fardos que sopesam uma vida urbana, com todos as individualidades impostas e respostas com e para isso. O trabalho do lavrador da linguagem no caso de Lilian (perfeito!) é fazer uma espécie de agricultura da sua semântica textual espalhando sentidos através da linguagem pelo coletivo (no caso, campo-terra) quase uma polinização de sedimentos e alimentos pela estrutura da terra- narrativa. Quando um leitor lê algo que o aflige, esta é um das posições da arte produzir (aflição) através da flecha do pertencimento-questionamento. Naquele momento, ele chama através de sua leitura um processo de identificação-entre-todos- que lerem-o-cerne-do-conflito e postularam o pertencimento comum.
Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. lançou neste ano o seu quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
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