Três poemas de Daniel Wachowicz

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É tempo

É tempo de florescer
Borboletas nesta língua,
Brotar, deste solo bruto,
As leves flores aladas
Que fertilizam a boca
De sons suaves e claros,
Flautas a tocar o céu
Com sibilinas palavras.

Tempo da boca florida
A cultivar primaveras
Atrás do canto arpejado
A fertilizar espaços.
As palavras perfumadas
Dedilham os seus orvalhos
Leves, soltos e sublimes
Por todo o solo silvestre
Destas faces radiantes
Que respiram seus rubis
Qu’ enfeitam corpos e peles.

 

 

Trítono

Três tons brutais…
Ao centro torna
Este fantasma…
As terras tremem
Esta tocada
Nota estranha
Até atiçar
A estrada toda…
E tudo tende
À tesa e certa
Nota estelar
Atada à volta
Ao tom atômico.

 

 

Rosto

Lágrimas lá se cristalizam, luas
De rostos tristes que trepidam, tontos
Rostos estreitos nos espelhos prontos,
Espelhos estes embaçados. Suas

Gotas de rostos tão sutis esgotam
Do Rosto a tez correta, estreita e tesa…
Expande, explode, pede, expira, pesa,
Esquenta, treme, trava, trepida… Lotam

Os turvos rostos deformando a pele
Que já não expele, altiva, a noite calma
Daquela velha e tão serena face

E se contorce, cala, grita aquele
Grito de rosto turvo, tonto, trauma
Atrás de trauma, alarga, estica e cresce…

 

 

 

DANIEL WACHOWICZ (Taboão da Serra, SP) é formado em Letras e é professor de português e inglês, tendo feito diversos cursos de produção literária. Já tem quatro livros lançados Convite ao abismo (Multifoco), As musas estão esmagadas no asfato (Benfazeja) e a plaquete Cosmopeles (Independente)) e Tempos de penhasco (Editora Patuá). Possui também poemas e contos publicados em algumas revistas digitais e impressas. D.CROWLEY@HOTMAIL.COM

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This Article Has 1 Comment
  1. LUIZA SILVA OLIVEIRA Reply

    Muito bons os poemas, adorei os três ” em suas faces divergentes; o primeiro, “É tempo”, contundente e primoroso no mais puro lirismo; em suas feições de puro florescer, uma ode à Natureza, acendendo clamores internos, como o orvalhar do amanhecer que anoitece e não perde seu alvorecer; como estrelas que brilham e se apagam. O segundo “Trítono”, mais punk, onde os fios de tensão estão prestes a estourar. Metaforicamente, o planeta sobrecarregado com altos fios de apreensão, angústia e medo, um retrato social contemporâneo desse nosso mundão.Real , verdadeiro e profundo. O terceiro “Rosto”, sutil e ardiloso, capturando emoções através de duros sentimentos que explodem em lágrimas ou não: mas deixam suas marcas em expressões faciais, um duro olhar, uma face endurecida e uma humanidade perdida… Parabéns ao super poeta Daniel Wachowicz

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