Psique e Eros
transfusão e falta de qualquer sentido
na palavra sangue faz sinal de fim
O dia de dizer das horas todas
esmagando o frágil da flor para trás
o anjo da efêmera vontade futura
entre um corte de carne e outro
Nada de bússola
Origamis amassados, cacos nas mãos,
catafalco amar o incansável finito
do dito não
Voo rompido
Queda na boca que não bebo memória
Da dor de abismo o mapa que não nasceu
dos condenados, não brotou vida
de nós entre os outros ainda mais cansado
A lágrima única guarda
ponteiros que te dediquei – são estilhaços
Morta de fome cai a salga mediterrânea
Morta de vida me mata na clandestinidade
Sofro de tardios e
efêmeros
Morre em mim o sim e o outro também
O espelho que nasceu quebrado de azar
entre meus punhos vão enterrados na terra
sete mais sete mais sete palmas
Sofro de extremistas
e eles me abatem no céu
em pleno voo
sem nenhuma misericórdia, amor
Constelação
uma mulher se desprendeu de meus braços
era outra a outra
era eu mesma a outra nela acenando
partindo de mim em volume de terra
a planta terráquea e faminta
retorcida em todo corpo
dos dedos dos pés até o alto
envolvida torta nos meus cabelos
atravessada carnívora na carne doce
me esmagando até o sufocamento
se nutrindo de minhas partes mais moles
sólidas doídas e sem camuflagem
de enormes garras entranhando vísceras
misturada ao que eu era
já não sou mais argila húmus e lodo
há o nada e emborco vazia
na outra que agora sai viva no aparte
com tronco prótese osso enigma
já não é mais outra
eu a procuro
sou legião
nuvem massa pernas e peitos
tenho várias cabeças
todas nelas hidras
outra que era eu
quando eu outra era a mesma
onde está?
reflexo e pedra
da mesma língua
levadas juntas na correnteza
fluxam nossas sementes envenenadas
fluxos de nossas regras libertadas
quando meus olhos caíram no corpo
a poesia é Deus
se é Deus eu a louvo e a abomino
se é Deus só posso lhe render minha covardia
_a extrema _ e meu pavor
_pequenos insetos podem ser esmagados com os dedos
entre as unhas e em todas as faixas do mapa
nos caixotes são criaturas absolutamente frágeis
epidêmicas, femininas, elevadas
a poesia é Deus limpando os móveis dos insetos raros
uma pianista que carrega o próprio piano
sem luvas descartáveis ou higiene alguma
juntei meus dois olhos de corpo e os comi
tanto sopro no ouvido
tantas cordas para puxar
Patricia Porto – Maranhense, Doutora em políticas públicas e educação, formada em Literatura, publicou a obra acadêmica “Narrativas memorialísticas: por uma arte docente na escolarização da literatura” (indicada ao prêmio Capes) e os livros “Sobre pétalas e preces”, “Diário de viagem para espantalhos e andarilhos” e “Cabeça de Antígona” (Editora Reformatório). Participou, ainda, de coletâneas no Brasil e no exterior. É pesquisadora no Projeto Portinari.
Belíssimos. Parabéns poeta Patrícia Porto.