as ancas duras o sexo se esfarelando
para onde vai a sua voz nessa neblina dura da cidade?
meu braço nitidamente fraturado no teu corpo
as pálpebras costuradas no inferno
minha virgindade aumentando a cada dano
nenhum homem me atravessa
há um deserto na sala como no meu corpo
estou emparelhada em algum continente
sou feito um deslize
uma água que tem em seu curso a própria negação.
*
tem um rinoceronte no meu pátio que me flameja toda noite
não há metáfora que sustente meu quadril
dolo encardido que ensurdece os ossos como uma mancha
tenho entre os dedos um crucifixo pagão
que me faz sangrar como eu sempre quis
novena que entorpece
as horas no meu corpo são como escombros
altares perdidos no oceano.
*
o verbo entornando nos silêncios rígidos do corpo
corrompendo hematomas
sendo acolhido pela carne que religiosamente evoca o sermão dos olhos
-nervo cozendo as mutiladas unhas-
lavrar as omoplatas
onde os verbos convulsionam como bezerros desmamados
e instituir altura ao teu nome
-cárcere do corpo-
há na poça ao redor, o barulho ensurdecedor dos ossos.
*
Raquel Gaio é poeta e artista visual.
Os três poemas acima fazem parte do livro das chagas que você não consegue deter ou a manada de rinocerontes que te atravessam pela manhã, lançado pela Editora Patuá em maio deste ano.
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