Editor da Revista Abate.
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deus garante gemidos
aos que transbordam
a transgressão é antes de tudo um troço bonito
pode ser
a começar pelo fel cesariano
sem o plástico que envolve
seria melhor dizer que a alegria é fêmea
maior bem maior
do que a insatisfação do desmame
do nosso olho sedento
cobiçando
o que é fogo
e ao mesmo tempo
afoga?
na cama dos excomungados
descansa mas não dorme
afaga a pólvora com dedos úmidos
promete percalços
sem prever o roteiro das manchas
o jorro pulsivo de quando
alguém volta a cabeça
e os olhos se banham de surpresa
Avenida Nossa Senhora de Copacabana
a travesti do outro lado da rua
nos abençoa com água de xuca
se aproxima oferece seu serviço
diz que já foi de centro espírita
grita que a mais eficaz simpatia
contra a violência é o abandono
convido pra puxar uma cadeira
logo bêbada ela ri resmunga e chora
no meu ombro confessa seu segredo
contra toda aspereza é sentir cócegas
Poema Ressentido
a tentativa
de enxugar teu nome das vidraças
com uma manta de faróis piscando
nunca funcionaria eu sei
mesmo assim cruzo esquinas
ouço o oceano
sento num banco
para reescutar velhos áudios
que gravamos durante uma viagem ao chile
o nosso portuñol quase alegre
gargalhei quando bêbada dizes:
toda cegueira es santa
na minha resposta qual matraca
repito e repito:
mejor seria la concision das onomatopeias
no shuffle veio depois
a feição cabisbaixa de Drummond
dizendo trechos de Morte no avião
agora de cabelo molhado
me debruço na sacada
há um parque de diversões
muito iluminado aqui em frente
ontem apostei na roleta
mas hoje rejeitei assunto
às mariposas inconsequentes
que pousam nos prêmios
da barraca de tiro ao alvo
elas se parecem contigo
Marcus Groza é palavreiro e devoto do céu violado. Autor dos livros “Sossego Abutre” e “e a lua como órgão principal”, e editor da Revista Abate.
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