“Por entre os peixes doces” – Três poemas de Abraám Castro Garcia

 

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Composição I (Acordo Ortográfico)

Anuncia
da cobra eivada
em decomposição a língua
a dor omnímoda do mundo
e o seu rogo provoca.
— Finado cervídeo branco,
faz favor,
ilumina com essa sombra esta
(a que acorda trémula)—.
Anuncia
verde verde ambulância
cadáveres toutiços caindo de chope
onde as rolas deformes bebem água.

 

 

Composiçom I (AGAL)

Anuncia
da cobra eivada
em decomposiçom a língua
a dor omnímoda do mundo
e o seu rogo provoca.
— Finado cervídeo branco,
fai favor,
ilumina com essa sombra esta
(a que acorda trémula)—.
Anuncia
verde verde ambulância
cadáveres toutiços caindo de chope
onde as rolas deformes bebem água.

 

 

Composiçom II (AGAL)

Por entre os peixes doces
ontem florescidos
(que já imagino amarelos e ocres)
os rios com brio bolem.
As vacas ruivas dormem
com a noite
por entre o milho.
Do rosto virgem
pende um olhar devagar
que nas costelas corruptas
da fecunda mulher amada impacta.
Assi, prendem luzes verdes
na erva do mar
onde se inclinam as serpes de água
ao momento em que case tudo escurece.
As vacas ruivas dormem
com a noite
por entre o milho marinho
e mais com os peixes doces
ontem florescidos
(que já imagino amarelos e ocres).

 

 

Composição II (Acordo Ortográfico)

Por entre os peixes doces
ontem florescidos
(que já imagino amarelos e ocres)
os rios com brio bolem.
As vacas ruivas dormem
com a noite
por entre o milho.
Do rosto virgem
pende um olhar devagar
que nas costelas corruptas
da fecunda mulher amada impacta.
Assim, prendem luzes verdes
na erva do mar
onde se inclinam as serpes de água
ao momento em que case tudo escurece.
As vacas ruivas dormem
com a noite
por entre o milho marinho
e mais com os peixes doces
ontem florescidos
(que já imagino amarelos e ocres).

 

 

Composiçom III (AGAL)

Alouminha esta morte
tal como se for filha
tua. Pom duas rosas
nas mans cruzadas de ontem.
A face branca minha
bica com essa boca.
Esta noite alva forte
espeta um beiço em mica.
Ouve a voz calma e rota
e o seu conselho atende:
É sempre triste a morte
porque tu nom a queres.

 

 

Composição III (Acordo Ortográfico)

Acarinha esta morte
tal como se for filha
tua. Põe duas rosas
nas mãos cruzadas de ontem.
A face branca minha
bica com essa boca.
Esta noite alva forte
espeta um beiço em mica.
Ouve a voz calma e rota
e o seu conselho atende:
É sempre triste a morte
porque tu não a queres.

 

 

 

Abraám Castro Garcia (Vigo, 1998) é um poeta muito moço consagrado à cultura da Galiza. Estudante de Filologia Galega na UVigo, mostra desde adolescente debilidade pela poesia e uma tormentosa relação com a língua galega. A sua poesia não narra nem descreve, senão que pinta com óleo cuidadas imagens de corte natural, animal e paisagístico, é dizer, singeleza e pureza em verso; quando não, referencia o fervor das paixões propriamente humanas, já que, como ele diz, «o humano é o extraordinário». Cada composição é, afinal, o reviver da sua mocidade, amálgama de cores diáfanas da infância e a sempre presente atmosfera fria e húmida da margem do Atlântico.
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This Article Has 5 Comments
  1. Rubervam Du Nascimento Reply

    Esta poesia tem algo que me incomoda. Não bem o quê, mas me inquieta a sua leitura. E isto é muito bom. Faz um bem danado à poesia. Aproveito Jean para parabenizá-lo pela conversa na Sala de Leitura com o Fabiano. Excelente suas colocações. Interessante seu compromisso com a beleza e arte da poesia. Quero muito ler seus livros. Em que lugar poderei encontrá-los?

  2. Rubervam Du Nascimento Reply

    Excelentes mesmo suas colocações. Gostei. Medida certa para perguntas curiosas sobre o seu processo criativo. Estão à venda em que espaço seus livros? Gostaria muito de lê-los. A que endereço posso encaminhar envelope por Correios para usted? Logo logo enviarei os poemas para a LITERATURA E FECHADURA. Estou verdadeiramente atarefadíssimo. Dois livros em revisão. Dei provisoriamente por terminado um dos dois rascunhos. Outro continua a cobrar-me os cuidados necessários. A poesia, como sabes, é por demais exigente. Qualquer deslize é imperdoável.Prometo nas próximas 48hs encaminhar os poemas.

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