Eu sou o ebó despachado na encruzilhada com pedidos de amor
sou os piolhos da cabeça de Rimbaud
o ópio de Baudelaire
a paranoia de Piva
Eu sou o tremor das pernas ao se aproximar o orgasmo
e a marmita estragada dos presídios superlotados
sou o dar de ombros da puta desenganada
e os boquetes desalmados
Eu sou a úlcera sangrando lentamente
Sou o pus de uma sutura mal feita
Sou a tuberculose que matou João da Cruz e Sousa
Eu sou o empréstimo feito para bancar a publicação do livro
os bens vendidos
o nome sujo no serasa
Eu sou a solidão que calou Florbela Espanca
sou a boceta querendo ser fodida
o cuspe e as chicotadas em uma sessão de sadomasoquismo
eu sou
eu
sou
o cataclismo de um corpo afetado pela poesia
…
Luana é uma alcoólatra agora.
E seu rosto tem aquela expressão dura de pessoas que flertam com cocaína e solidão.
E eu fico triste porque ela é tão linda e tão doce.
Agora ela deve estar escutando Maysa, sozinha em casa buscando a “magia” e o amor que tanto almeja através da garrafa de martini.
Luana diz que Deus é o homem que morde sua nuca numa noite de sorte.
Luana chora abraçada a garrafa.
Ela sabe
que
“Primeiro, o amor
depois, o desencanto
e o resto de nossas vidas”
Ela sabe que o amor é o lembrete da beleza que frequentemente acompanha a destruição
Ela foi empurrada até a beira da solidão e caiu
quando escalou de volta percebeu que o seu mundo nunca mais seria o mesmo
…
No meio da multidão, o que não havia morrido
Cercado por tudo que já mataram,
Sua lágrima era uma ilha
Deslizando no oceano da cara.
…
Belíssimos poemas. Íngrid é grande.