Origami de metal, título do livro de poemas de estreia de Mateus Machado contrasta com a ideia nascente, ou seja, o origami de papel. O origami é a arte de manipular com as mãos peça de papel utilizando-se de dobras geométricas para trazer à existência geralmente pássaros e outros seres.
O origami de Machado, não se dobra de imediato, não utiliza as mãos, tampouco maquinários para dobras ou afins, ele percorre um mundo solar. Há, no poeta, o ímpeto pelo etéreo, a palavra comunga com forças que imprimem um outro mundo, não revelado pela palavra comum para nós, que só é possível ser alcançado pela palavra transcendente.
A palavra “metal” quebra o pensamento linear, a visão planificada, e a torna em algo mais plural, de imediato o autor mostra uma visão elástica, desconstruindo deste modo o olhar hipnotizado pelas tramas cotidianas e vícios arquetípicos familiares.
Temos aí a junção das palavras Origami e metal que se aglutinam na construção [poética] frasal constituindo uma producente reorientação de lugar e sentido no território vocabular, vertendo-se em uma coisa mais dúctil e ao menos tempo plástica e desconcertante.
Quando o título é lido, a mente perspicaz vê por antecipação que está diante de um poeta hábil, meticuloso, inventivo. A palavra em sua mão não será um mero souvenir. O seu título parece desejar atar o nosso pensamento para um possível desvendamento, e ao abrirmos o livro somos tomados pela beleza de passar horas percorrendo no jardim secreto do poeta; numa atividade peripatética em busca de apanhar um pouco dos seus mistérios.
O livro nos coloca em outras esferas, conduzindo dentro da possibilidade da linguagem, a um mundo desbravado pelo olhar de fogo do poeta que clareia lugares, por ele, lidos e imaginados, trazendo ao universo da palavra belíssimas imagens.
Em suma, o autor na sua primeira obra, empreende uma dicção poética notadamente encorpada, os frutos de sua árvore-poesia carregam sensações degustativas peculiares, que rutilam; ao examiná-la vê-se que a copa, raízes, folhas e o tronco, vaticinam que dali serão gerados frutos: cada vez melhores e mais saborosos.
Hoje sou a fruta
em teus pés
Amanhã serei o vinho
em tua boca
Vindimas ao entardecer, pág. 40
JEAN NARCISO BISPO MOURA – poeta brasileiro, nasceu em São Félix, estado da Bahia, em 31 de outubro de 1980, reside desde os seis anos no estado de São Paulo, é licenciado em Pedagogia e Filosofia, autor de 6 livros de poesia: A lupa e a sensibilidade [2002], 75 ossos para um esqueleto poético [2005], Excursão incógnita [2008], Memórias secas de um aqualouco e outros poemas [2011] , Psicologia do efêmero [2012] e Retratos imateriais [2017]. Já teve poemas publicados em revistas virtuais, sites e blogs: Incomunidade (Portugal), Cinosargo (Chile), Mallarmargens, Germina, Blecaute, Canal Subversa, Poesia Primata, noblat o globo, Lanco Cultural (Chile), A voz Pública da Poesia, Antonio Miranda, Ver-o-Poema, Carlos Zemek, Ruído Manifesto, Quatetê, Palavras que me tocam(Portugal), anedota búlgara etc. É também editor da Revista Digital Literatura & Fechadura. www.literaturaefechadura.com.br
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