“o fluxo invisível de sal grosso na garganta, não nos olhos, arranha o coração” – Três poemas de Mônica Ribeiro

amonicaribeiro e1536240517755 - "o fluxo invisível de sal grosso na garganta, não nos olhos, arranha o coração" - Três poemas de Mônica Ribeiro

 

 

AMPULHETA

e quantos pontos
são necessários
para estancar
o sangue
de quem se corta
com cacos
de ampulheta?

quantas pinças
são necessárias
para tirar
do sangue
a areia do tempo
que escapou
da ampulheta quebrada?

quantos anos
sofridos(?)
são necessários
para que não se quebre
a ampulheta?

basta saber
que
a ampulheta
é por si
torta, trincada
mal lacrada, vazada.

 

 

 

TEMPESTADE DE AREIA

Dor desnorteia
Desagrega o ser

Que agoniza
Mesmo sem morrer.

Dor é falta de ar
Ventania que sufoca
Excesso do que respirar

Choro seco
De lágrimas secas

Dor
É tempestade de areia.

É falta de brisa.
Aquela que
Em vez de ferir

Alisa.

***

A pessoa tem vez que se vê desertificada.
As lágrimas, secas, doem mais do que as que jorram.
Faz sentido: o fluxo invisível de sal grosso na garganta, não nos olhos, arranha o coração.
A pessoa tem vez que se vê num oásis.
Às vezes é miragem e às vezes não.
Nos dois casos, ao menos as lágrimas jorram
O sal diluído.

 

 

 

ESTRUTURA ÓSSEA

Às vezes penso que se
Tivesse rosto comprido
Teria levado menos chutes na cara

Pés pensam que bolas são mais macias.

Às vezes penso que se
Tivesse postura imponente
Teria sofrido menos humilhações

Vaidades têm medo de ereções posturais.

 

 

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Eu? Mônica Ribeiro. Falo a partir do umbigo mas, quando peço: fale, umbigo, ele se fecha. Teimoso, falso profundo, menos de um  centímetro de breu. Teme mostrar-se, o ele-eu. Guardo-o sob tecidos. Não que isto cale sua-minha voz. Pensamento-voz-sem-timbre, dedos escrevendo, palavra grafada: eis a minha paganíssima trindade.

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This Article Has 4 Comments
  1. brih Reply

    adoro ler esta menina poeta, seus escritos vem de sua alminha linda!!!! um beijo poetinha querida…

  2. Amanda Reply

    Maravilhosa! Uma poeta genial em crescimento!

  3. Olga Pasquale Reply

    Valeu esperar para ler mais tarde. Valeu,Mô!

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