TRÊS POEMAS INCULTOS
I
Giovanni Pascoli tinha duas irmãs.
Elas amavam-no,
Elas amarravam-no,
E ele amava-as tanto
Como às suas Mírices.
Isto aconteceu uns bons anos antes
De Amadeo Bordiga
Ter denunciado o capitalismo de Estado
Instalado por Vladimir Ilitch
Em desespero de causa
E de o grande Gramsci
Ter meditado no cárcere
Sobre O Príncipe
Do Secretário Florentino.
Não percebo grande coisa de Italiano
Mas o que Pascoli escrevia
Era muito bonito.
II
Maupassant era afilhado de Flaubert
E, toda a gente sabe,Flaubert disse,
Como Luís XIV,
O Estado, sou eu,
Sendo que neste caso o Estado era Madame Bovary.
Os irmãos Goncourt achavam-no um pouco grosseiro
Para o seu gosto refinado
E estranhamente avançado,
E Verlaine,
O Quasimodo da poesia,
Valia dois Rimbaud
Mesmo quando rezava a Nossa Senhora,
E Baudelaire,
Aquele que adorava Apollonie
E ficou enjoado depois de dormir com ela,
Surrealista na moral,
Como justamente dizia André Breton
E, novamente, Rimbaud,
De quem tanto se fala, e falou,
Um pouco mais do que de Lautréamont,
Não teriam sido nada
Sem Théodore de Banville,
E eu não gosto de cães que mordem na mão do dono.
III
Hitler tinha um revólver com nome de poeta,
Não consta que este último tenha tido um revólver,
Apenas disparou palavras certeiras no meu coração.
José Pascoal
N. 1953, Torres Vedras, Portugal. É licenciado em Direito, escreve poesia, sobretudo. Em 2017, inicia a publicação duma quadrilogia dedicada à poesia escrita entre 1972 e 2017:
– Sob Este Título, Editorial Minerva, Lisboa, 2017
– Antídotos, Editorial Minerva, Lisboa, 2018
– Excertos Incertos, Editorial Minerva, Lisboa, 2018
– Ponto Infinito, Editorial Minerva, Lisboa, 2018 (no prelo)
Inéditos publicados nas revistas digitais 7faces, Triplov-site dedicado a Ernesto de Sousa, InComunidade, Caliban, Palavra Comum e Literatura & Fechadura, e na revista impressa Nervo-Colectivo de Poesia.
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