A grandiosidade do Nordeste em A engenhosa tragédia de Dulcineia e Trancoso
Solha volta à ficção com a criação de um megaespectáculo literário,
num enredo que traz Ariano Suassuna e Miguel de Cervantes
Livro: A Engenhosa Tragédia de Dulcineia e Trancoso, ficção.
Autor: W. J. Solha
Publicação: Editora Penalux
Tamanho: 21 cm Páginas: 98
Preço: R$ 35,00
Disponível em:
http://editorapenalux.com.br/loja/a-engenhosa-tragedia-de-dulcineia-e-trancoso
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Solha acaba de lançar seu mais novo livro: A engenhosa tragédia de Dulcineia e Trancoso.
Para quem não o conhece, o autor, além de escritor e artista plástico, atuou em alguns filmes importantes, com ótimas críticas (sua maior projeção atuando veio em 2012 graças à sua participação no longa-metragem O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho).
No palco das letras, entre prosa e verso, publicou mais de uma dezena de livros. O de agora, seu mais recente trabalho literário, é um longo poema narrativo com rimas (um “rimance”) e está sendo lançado pela Editora Penalux.
“Poderia ter feito um cordel”, diz o autor, “mas escolhi algo mais solto: um romance rimado, sempre ágil, aqui e ali sofreado e engrandecido pela solidez do ‘martelo agalopado’ (versos com estrofes de dez decassílabos)”.
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REFERÊNCIAS
Já no título começam as referências literárias que o livro traz. O nome de um dos personagens remonta ao escritor Gonçalo Fernandes Trancoso, um dos primeiros contistas em língua portuguesa. Por conta desse autor, existe no Nordeste a expressão ‘História de Trancoso’, usada para designar qualquer narração mais inventiva que mentirosa.
A engenhosa tragédia de Dulcineia e Trancoso apresenta uma narrativa em versos típica de uma novela de cavalaria, mas inserida num contexto nordestino e atualizada aos dias de hoje. Os aspectos regionalistas emanados da figura fulcral de Ariano Suassuna e a ambivalência humorística de Miguel de Cervantes tecem um “um retrabalho de gêneros discursivos medievais, com forte emulação aos princípios humanistas, filosofantes, ao trovadorismo e às narrativas orais”, como bem aponta Daniel Zanella, editor do jornal RelevO, na orelha do livro.
Zanella faz outra observação esclarecedora: “O grande circo místico de SOLHA expande as relações entre literatura e jornalismo, tascando elementos da contemporaneidade (periódicos, relação com a notícia em tempos de liquidificadoras digitais, sensacionalismo, reportagem) com a atmosfera onírica de um Suassuna de A Pedra do Reino, espécie de oráculo da obra de SOLHA. Há, aqui, portanto, uma inteligência narrativa em progressão, poesia que se derrama na sonoridade, na beleza dos gestos abruptos, um certo pacto de sonho em prol da potência máxima da poesia”. E continua: “O enredo se vale do encadeamento impressionante da musicalidade dos cordéis (a irreverência, as marcações dramatúrgicas, o fluxo lírico preciso), entregando um sertão estilizado, mas não impossível. Excelente livro, somente eficiente sob a pena de um escritor capaz de controlar, sob o guarda-chuva da metalinguagem, a fartura interna de estilos e referências”.
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DETALHES SOBRE O ENREDO
A obra retoma fatos de nosso passado, a exemplo do romance Pedra Bonita, do Zé Lins, mas dotando-os de elementos contemporâneos, de modo a tornar-se algo como um acontecimento esportivo do porte de uma Copa do Mundo. É o Brasil, na sua revolta sem tamanho, pedindo uma atenção de alcance mundial a favor do seu povo.
Na trama, uma multidão, sob cobertura internacional da imprensa escrita e televisiva de todo o mundo, se reúne em torno da Pedra do Reino, em São José do Belmonte, sertão pernambucano, a fim de ver o portento da chegada messiânica, anunciada por ninguém menos do que Ariano Suassuna e seu ídolo Miguel de Cervantes, o que tem a ver com o casal que vai se envolver no “milagre” – Trancoso, que é o Quixote do Circo Du Seo Léo, ali presente – e sua amada Dulcineia, uma beldade do lugar, não tão bela, mas que se submete a um banho de loja, pra conquistar seu amado. Com a enormidade em que se torna o evento, as forças armadas cercam a Pedra, com o propósito de explodi-la, detonando gigantesca revolta popular.
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OPINIÕES
Dois autores comentam a nova ficção de W. J. Solha.
A poeta Tânia Du Bois assim a descreve: “É praticamente impossível ler A Engenhosa Tragédia De Dulcineia e Trancoso e não perceber a lucidez lírica em Solha, demonstrada através do seu estilo, conhecimento e competência, que o personaliza pela busca de ampliar os limites do possível nas cenas da vida e transforma o livro em espetáculo, onde o leitor é o espectador.”
Na opinião do crítico Éverton Santos, “a narrativa é ao mesmo tempo mítica e representativa da realidade popular nordestina; seu cantar, nesse Rimance, é inventivo, crítico, simbólico, perspicaz, irônico, um antropofágico monumento que, como as duas Pedras do Reino, é cercado de histórias”.
O livro em sua originalidade consagra a beleza mítica do Nordeste – do seu povo a clamar por Justiça e por uma realidade menos sofrida.
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O AUTOR
Solha tem 77 anos, é de Sorocaba, sendo paraibano há 56. Tem vários romances premiados: Israel Rêmora – Prêmio Fernando Chinaglia 1974; A Canga – 2º. Prêmio Caixa Econômica de Goiás 1975; A Batalha de Oliveiros – Prêmio INL 1988; Relato de Prócula – Funarte 2007 e Prêmio João Fagundes de Menezes, da UBE-Rio, 2010. Tem vários poemas longos, dentre eles Trigal com Corvos – Prêmio João Cabral de Melo Neto, UBE-Rio 2005. O autor também se dedicou à pintura (o painel Homenagem a Shakespeare, da reitoria da UFPB é dele) e participou como ator em vários filmes, destacando-se os curtas A Canga – de Marcus Vilar, e Antoninha, de Laércio Filho; e, entre os longas, O Som ao Redor – de Kleber Mendonça Filho, e Era uma vez eu, Verônica – de Marcelo Gomes. Tem publicada também a coletânea História Universal da Angústia – Ed. Bertrand Brasil, 2005 – Finalista do Jabuti em 2006; Prêmio Graciliano Ramos, da UBE/Rio 2006.
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