Por Fernando Andrade
Há uma semiologia em órgãos ligados organicamente dentro do corpo. Conectados por uma fisiologia de funcionamento empírico só cessado pela morte. Neste sentido as coisas funcionam por lastros por estarem conectadas uma às outras adquirindo funções para tanto o meio interno quanto externo. Mas a linguagem é uma via que não pode ser definida como algo puramente funcional e empírico.
Seu grau de referencialidade e de subjetividade; repare num médico falando sobre um corpo de alguém, como pode ocorrer flutuações sobre qualquer diagnóstico, coisas que um exame bem feito sanaria. Este caráter de flutuação do certo, da certeza postulante parece ser um dos postulados para que o poeta Bruno Gaudêncio faça uma poética de miscigenação de lastros onde o humano permeia, podendo ser tanto um corpo biológico, quanto questões de cunho metafísico- filosófico.
Sua poesia requer uma certa atenção na leitura, por estar sobrecarregada de camadas de imagens que deslizam pelo biológico, pela natureza. Seria preciso um leitor escavador de signos, de signos enterrados, num nível subterrâneo. Um exemplo é o próprio título do livro, A cicatriz que canta o incêndio da raiz, editora Moinhos, um poema que fala sobre exílio, um desterro, aqui menciono a relação de terra, subsolo, raiz, entranhas, vísceras, uma interioridade tanto nos órgãos aqui não apenas corpo mas também órgãos de controle, órgãos que organizam que postulam a vida em sua vacilação.
A relação entre superfície como a pele eivada de cicatrizes, e uma forma de morte na imagem em combustão das chamas que devora o dentro (o interior). A raiz que aqui não só sinaliza raízes naturais como de uma árvore como raiz etimológica, indo às significações da interpretação (interioridade das coisas).
Fernando Andrade é jornalista, poeta e crítico de literatura. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemometria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema “A cidade é um corpo” participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Lançou em 2018 o seu quarto livro de poemas A perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
Be the first to comment