aeroporto internacional de guarulhoscumbica gov. andré franco montoro GRU fechado para pousos e decolagens
ainda prefiro a neblina natal
e o silêncio nesta língua com açúcar
perder dicionários é muito sério
os algoritmos me entendem
melhor do que você
no meio da música alguém disse que
as aeronaves discos voadores satélites drones
são desejos não atendidos
agora
aqui
com um pé na europa e outro na ásia
chocando meus olhos contra um céu em cirílico
eu me pergunto
qual foguete fabricado na guerra fria
para conquistar o espaço
seria o meu sonho feito fóssil
alguns poetas provocam naufrágios
a outros só resta fugir de letreiros
comer palavras ininteligíveis
torpedear amores impossíveis
numa partida de batalha naval.
noteto self from a womanonthe run
favor destruir após ler
esconder os livros
atrás dos dentes
manter o horizonte
junto às íris
temer sobretudo os depósitos
e despensas: têm fome
porões e sótãos
não assustam
memorizar os mapas
cerzidos entre poemas
IGNORAR AS BÚSSOLAS
verificar os sapatos:
estão à porta
prontos
gastos e aptos
ao silêncio da estrada
por fim
incendiar a casa.
vai com cuidado
há na cidade uma despedida
de malas feitas
e documentos falsos
há bilhetes suicidas
e mal-entendidos
nos nomes das ruas
não há mais saída:
o rio que me beba
o corpo bêbado
não há tempo
para curar um porre
entre uma ponte e a morte.
Anna Clara de Vitto. Poeta. Santista radicada em São Paulo. Participa da coordenação do Clube da Escrita para Mulheres. Possui poemas publicados em algumas revistas online, tais como Fazia Poesia e Algo deu Errado, iniciativa dos alunos do Curso Livre de Preparação do Escritor – CLIPE, Casa das Rosas, turma de 2018. Publicará em breve seu primeiro livro de poesias e, enquanto banca uma Penélope meio Ariadne e se concentra na tarefa, frequenta saraus e leituras. Blog: www.medium.com/@annaclaraescreve
… o rio que me beba!! Poesia transbordando, Anna clarara! Gostei desse poema muito e em especial: vai com cuidado. Você, não!! Ande descuidada… beijo