“e vão fazer não sabemos o quê” – Três poemas de Arthur Lungov

 

 

M.

No dia da desgraça
vi a foto
do carro

mais buracos do que
pessoas

cada vez mais
mais buracos
do que pessoas.

 

Alguém

Acho graça acho graça sim
você não viu o que ele
disse
as palavras enroscadas
você viu ele vermelho ele estava
suando
descontrolado quebrado ele não aguenta muito
mais
logo que apertar você vai ver
ele desiste ele
some
ele jamais vai
ganhar.

O maior programa de auditório do país acaba
em um porão fechado

close súbito
e fim.

 

Memória de Zumbi

A estátua mais pichada do Rio de Janeiro
amanhece todo domingo
encoberta
por suásticas

os meninos deixam suas marcas
e vão fazer não sabemos o quê
pela noite preta

imagino que não voltem tão cedo
pra casa.

 

Arthur Lungov é poeta e editor de poesia da Lavoura, revista de literatura contemporânea. É autor dos livros Luzes fortes, delírios urbanos (Patuá, 2016) e Corpos (inédito), que foi contemplado pelo 2° Edital de Publicação de Livros da Cidade de São Paulo. Foi publicado em coletâneas e revistas literárias (Philos, mallarmargens, Ruído Manifesto, Raimundo, gueto, Gaazeta de Poesia Inédita, Poesia do poeta etc.). Foi curador convidado da Casa Philos na FLIP 2018. Email para contato: albugelli@gmail.com

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